sábado, 27 de setembro de 2014

Como enviar dinheiro para outro país?

Antes de começar este post (já começando) preciso pedir desculpas por uma confusão nas datas! Nos posts anteriores, eu escrevi que fizemos a trilha do Cajón del Azul dia 2 de fevereiro, quando na verdade foi dia 3. Também disse que saímos de El Bolsón dia 4, e isso aconteceu só no dia 5. Desculpem pelo equívoco, não vai mais acontecer!!

No dia 5 DE FEVEREIRO DE 2013, então, deixamos El Bolsón para trás, com muita tristeza. Tomamos um ônibus na estação rodoviária e rumamos para a nossa próxima parada: Esquel!
O trajeto entre as duas cidades não dura nem 2h, e sai relativamente barato - cerca de R$30 por pessoa. Situada 160km ao sul de El Bolsón, Esquel estava prometendo ser um destino muito interessante. Também uma indicação do meu amigo suíço que mora em Santiago, a cidade possui diversos atrativos naturais com muitas opções de trekking, escalada, observação de pássaros, safári fotográfico e esportes radicais.




Se Esquel é totalmente desconhecida por nós, brasileiros, na Argentina não é tão diferente! Ofuscada pela fama de Bariloche, El Calafate ou Ushuaia, Esquel sofre com o desinteresse de quem viaja à Patagônia. Irresignada com o fato de não ser procurada, a cidade busca a todo custo ser vista - e o que não faltam é campanhas para promover o turismo no local! Logo ao chegarmos à cidade já recebemos diversos panfletos sobre o que fazer, onde comer, onde ficar, etc. A ansiedade em imitar os grandes centros turísticos, para talvez um dia se tornar um, é notória desde o momento em que você pisa em Esquel pela primeira vez.

Nós havíamos reservado, na noite anterior, 2 noites no hotel Sol del Sur. O preço da diária para o quarto duplo (R$ 100) era um dos mais baratos disponíveis no site do booking, por isso pensamos que se tratava de um simples albergue. Quando descemos na rodoviária, pegamos um táxi até lá e tivemos uma alegre surpresa - o Sol del Sur era um hotel de grande porte, com diversos andares, recepção 24h, um grande saguão, serviço de camareiras, internet wi-fi, computadores para uso do hóspede e tudo mais que um turista pode desejar! A localização também era excelente - em 2min de caminhada nós estávamos na rua principal da cidade, onde está o posto de informações turísticas. Tão bom ou até melhor que o nosso Hotel Internacional, onde dormimos por 4 noites em Bariloche.

Após um breve reconhecimento da cidade, ficamos com uma impressão ligeiramente negativa. Acho que tínhamos ficado tão impressionados com El Bolsón que esperávamos que Esquel seguisse na mesma linha - mas infelizmente não há a menor comparação entre as duas cidades. El Bolsón é vibrante, tem um centro turístico muito agradável e uma enorme praça central, como eu já descrevi nos posts anteriores. Já Esquel (embora tenha a pretensão de ser melhor até que Bariloche) possui apenas uma rua principal, chamada Alvear, que tem algumas poucas lojas, restaurantes e agências de turismo que organizam passeios pela região. A maior atração do "centro" é o posto de informações!

Paramos para almoçar no que eu acredito ser o principal restaurante de Esquel, localizado na esquina em frente a esse posto (infelizmente não lembro o nome do lugar e nem consegui encontrar na internet). Comemos uma comida muito sem graça e, quando fomos pagar com os nossos cartões, eles foram recusados, os dois! Alegamos que a máquina do restaurante estava com problema, mas eles foram irredutíveis - e nós, que estávamos economizando ao máximo o pouco dinheiro que nos restava, mais uma vez tivemos que pagar em espécie.

Depois do almoço, curiosos e preocupados com o problema nos cartões, resolvemos fazer um teste. Compramos chocolate em uma tabacaria, passamos os cartões e, para o nosso desespero, novamente foram recusados!

Foi aí que percebemos de fato o quão dramática era a situação. Quase não tínhamos mais pesos conosco, e só nos restavam alguns dólares - que, certamente, não seriam suficientes até o fim da viagem caso os nossos cartões não voltassem a funcionar. Fomos ao posto de informações e explicamos a situação, perguntando onde podíamos trocar nossos últimos dólares. E aí a inacreditável resposta - não havia casas de câmbio em Esquel! Eu me pergunto como uma cidade que se julga a Bariloche do futuro pode sobreviver sem uma casa de câmbio!!! Para o nosso alívio, a moça das informações disse que alguns comerciantes poderiam, em suas lojas, trocar dinheiro para nós.

Fomos até uma das lojas indicadas, La Estación, onde eram vendidas antiguidades e objetos de decoração. Conversamos com a dona, uma senhora chamada Cristina, e ela foi uma das melhores pessoas que eu já conheci em alguma viagem. Comovida com a nossa complicada situação, ela trocou para nós os dólares que ainda tínhamos, a um preço até menor do que o do câmbio oficial! Além dos dólares, como estávamos realmente numa situação extrema, ela abriu uma exceção e trocou até os reais que tínhamos levado para alguma emergência no aeroporto em Porto Alegre. Saímos de lá muito agradecidos e com dinheiro suficiente para uns poucos dias, até que o problema nos cartões fosse resolvido.

Voltando ao hotel, ligamos para as nossas famílias para que eles contatassem a empresa dos cartões de crédito e verificassem o motivo pelo qual eles não estavam sendo aprovados. Não conseguimos obter resposta nenhuma, pois aparentemente tudo estava certo e não tinha razão para ocorrer qualquer tipo de problema! Sem alternativa, pensamos muito sobre o que fazer frente àquela situação crítica. O dinheiro que tínhamos seguramente não duraria mais de uma semana, e tínhamos ainda mais 18 dias de viagem! 

Eu nunca tinha passado por um aperto desses e não fazia a menor ideia de como nos livraríamos dessa enrascada. Nossa primeira ideia foi pedir para alguém comprar nossa passagem de volta para Porto Alegre já para o dia seguinte - mas claro que isso seria caro demais e frustrante ao extremo. 

Eu pensei bastante e então tive uma ideia - meio absurda, mas que podia ser uma luz no fim do túnel! Eu poderia pedir que alguém da nossa família depositasse dinheiro na conta de alguma pessoa de Esquel, e que essa pessoa retirasse o valor no banco e me repassasse. Foi a ideia mais louca que eu já tive, e a minha única garantia seria a confiança que o receptor do dinheiro fosse honesto! Eu até faria um documento em que a pessoa se comprometeria a pagar a referida quantia, mas não tinha a menor ideia do valor legal disso na Argentina! De qualquer forma, estava disposto a tentar, e não pude pensar em mais ninguém a não ser na prestativa Sra. Cristina, da loja de antiguidades! 

Voltamos até lá e conversamos com ela a respeito. Eu pensava que ela rejeitaria a ideia de imediato, e me surpreendi muito quando ela aceitou sem maiores questionamentos, me oferecendo inclusive pagar parte do valor antes de sacar o depósito, para que eu tivesse uma garantia da sua boa-fé! Como ela não estava com o número da sua conta na loja, e como eu também ainda não estava 100% certo de que queria fazer isso, deixamos para acertar tudo no dia seguinte.

Quando voltamos ao hotel, bastante nervosos com a situação, comentamos o ocorrido com o recepcionista. Foi então que ele nos explicou sobre uma empresa chamada Western Union, que trabalha com remessas de dinheiro ao exterior. Fomos para o google pesquisar, e não deu outra - Western Union era a solução perfeita, se encaixava como uma luva para o nosso problema! Alguém das nossas famílias faria um depósito em uma agência de Porto Alegre, e um dia depois o montante já estaria disponível para retirada em qualquer correio da Argentina que fosse credenciado com essa empresa - e quase todos, felizmente, são! Em troca, a Western Union nos cobraria uma comissão de aproximadamente 10% sobre o valor da transferência. Fazer o quê, se era o único jeito?? Melhor isso do que envolver na história a dona da loja de antiguidades!

Imediatamente telefonei para o meu tio e pedi a ele que fizesse um depósito no valor de R$ 4.000 - valor que julguei suficiente para eu e meu amigo sobrevivermos até o final da viagem. Como já era noite a essa altura, o depósito seria feito só no dia seguinte, e nós poderíamos retirar o dinheiro dali a 2 dias no máximo. 

Ficamos muito felizes com a descoberta dessa ferramenta tão fácil, útil e até então desconhecida para nós (embora esteja há 150 anos no mercado - que vergonha para um viajante!!!). Fomos até a loja La Estación, agradecemos muito à Sra. Cristina e explicamos que já havíamos dado um jeito no nosso problema financeiro, não sendo necessária a ajuda dela. Cristina ficou muito contente por nós e desejou que tudo desse certo no resto da nossa viagem, deixando claro que, se precisássemos de mais alguma coisa, poderíamos voltar a procurá-la. Realmente ela não apenas era uma pessoa honesta - era uma dessas raras criaturas que se satisfazem em fazer o bem e não medem esforços para ajudar o próximo. Espero que nenhum mal-intencionado se aproveite da boa vontade dela!

Mais tarde fui pesquisar no computador sobre a possibilidade de meu tio ter feito um depósito, do Brasil, em uma conta argentina. Não era tão simples como eu pensava - e nem eu, nem meu amigo, nem Cristina sabíamos disso! O Western Union, apesar de bem mais caro, ainda era a solução mais eficiente. Tudo isso que estava acontecendo pelo menos serviria para nos ensinar como lidar com esse tipo de problema.

No dia seguinte, conforme o combinado, meu tio fez o depósito de R$ 4.000, em Porto Alegre. Será que o dinheiro vai chegar direitinho na Argentina??

Não perca a continuação dessa jornada no próximo post, além de conhecer a Laguna Zeta, em Esquel!




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