terça-feira, 30 de setembro de 2014

Chegando em El Chaltén

Antes mesmo de começar a nossa viagem pela Patagônia, eu e meu amigo já tínhamos traçado uma linha mental entre Esquel e El Chaltén. Era a divisão do roteiro em 2 partes bem distintas - na primeira (Bariloche, El Bolsón e Esquel), muito calor, muitos bosques e lagos para visitar; na segunda, muito frio e muitos glaciares em El Chaltén, El Calafate e Ushuaia

Essas 2 regiões da Patagônia argentina, bem diferentes entre si, estão separadas por mais de 1.000 km. Como em todo esse espaço não achamos nenhuma atração que valesse a pena, resolvemos encarar de uma vez só essa distância. 

A estrada é muito deserta (tanto de pedestres como de veículos), e às vezes o asfalto é precário e obriga os veículos a andarem bem devagar. O que mais se nota e o que eu achei mais incrível é que a gente anda horas, horas e horas e a paisagem parece nunca mudar! E estamos falando de 23h de viagem!!!





5 horas depois...





5 horas depois...





Parece que estamos chegando...




O máximo que você consegue ver de diferente, de vez em quando, são guanacos - um animal nativo da Patagônia, mais ou menos uma mistura de lhama com camelo. 

Essa estrada longa e interminável é a famosa Ruta 40, a rodovia mais extensa da Argentina, que segue paralela à Cordilheira dos Andes e liga o país de norte a sul em 5.224km!




Abaixo, confira o longo trecho Esquel - El Chaltén:




No dia 7 de fevereiro, às 21h, embarcamos no ônibus sem remorso de deixar Esquel para trás. Foi lá que tudo deu errado para nós - tivemos o problema com os cartões, perdemos mais de um dia de viagem, não visitamos os Túneles de Hielo e Los Alerces tinha sido estressante demais. Nossa esperança era que essa nuvem negra saísse de cima de nós na segunda etapa da viagem, e por isso estávamos muito ansiosos para chegar logo em El Chaltén. Uma coisa pelo menos era certo que ia melhorar: a temperatura! Não estávamos mais suportando tanto calor e, pela previsão, o sul da Argentina estava até com temperaturas negativas! Uma verdadeira bênção para quem não aguentava mais ver o suor escorrer pelo pescoço!

O trajeto de ônibus, apesar de ter durado quase um dia, não foi tão cansativo quanto imaginávamos. O ônibus estava praticamente vazio, e por isso cada um de nós ocupou 2 assentos. Conseguimos deitar e dormir tranquilamente durante a noite inteira e mais um pouco! Durante o dia seguinte, fizemos diversas paradas no caminho, o que amenizou bastante a monotonia da viagem. E quando vimos, inesperadamente, eis que surge diante de nós a impressionante visão do Monte Fitz Roy, todo coberto de neve! Eu, que sou fã número 1 do frio e da neve, já estava me sentindo mais feliz do que em toda a primeira parte da viagem! Era sinal de que havíamos chegado realmente ao sul do país - aquela região extrema e gelada que tanto nos atraía!

Desembarcamos na estação rodoviária de El Chaltén pelas 20h (muito pontualmente), vestimos nossos casacos (aleluia!) e fomos direto para a pousada que tínhamos reservado pelo site booking - novamente, a mais barata da cidade! Podíamos perfeitamente ter chegado lá caminhando, mas já que não conhecíamos a cidade e não sabíamos exatamente a distância - e também porque estávamos com a bagagem toda - resolvemos pegar um táxi. Saiu menos de R$ 10, e por isso valeu muito a pena! 

Com o nome de La Guanaca, a pequena pousada tinha capacidade para apenas 4 pessoas, divididas em 2 quartos duplos. Tratava-se um grande sobrado de madeira, onde no primeiro andar moravam os donos e no segundo os hóspedes. Confesso que nossa primeira impressão não foi das melhores, pois a escadinha parecia estar caindo aos pedaços, de tanto que rangia! Além disso, na foto do quarto que tínhamos visto na internet havia uma grande cortina fechada em uma das paredes - que nós, como qualquer mortal, supúnhamos que encobrisse uma janela. E não é que realmente tinha aquela cortina no quarto, mas atrás dela tinha só a parede??? Tivemos que rir para não chorar!

Pouco tempo depois, já tínhamos esquecido da escada que rangia, e a pegadinha da cortina era apenas motivo de piada. Os donos da pousada, um casal de 30 e poucos anos, eram tão simpáticos e prestativos que compensavam qualquer incômodo. Eles conversaram bastante com a gente, se esforçando para falar português (uma coisa rara), deram dicas sobre os melhores lugares para visitar, sobre onde comer, o que levar nas trilhas, nos chamaram para ver o filho recém-nascido deles, deram altas gargalhadas e nos ofereceram mate. Impossível não se sentir em casa com a Victoria e o Marcelo!

Como era noite e já estávamos morrendo de fome, fomos logo jantar antes que os poucos restaurantes fechassem. Comemos uma massa muito boa no restaurante mais próximo, cujo nome era Mafalda, Matilda, Marilda ou alguma coisa parecida. 

Em seguida voltamos para La Guanaca e continuamos o papo com o alegre casal. Comentamos sobre o nosso problema com os cartões, e eles já nos indicaram o endereço do correio da cidade, onde retiraríamos o dinheiro na segunda-feira. Também riram e disseram que, em El Chaltén, de nada vale ter um cartão de crédito, já que nada funciona lá - nem celular, nem internet e muito menos máquinas que passam cartões! A Victoria tinha o plano mais caro possível de internet, e mesmo assim sofria para trabalhar com as reservas da pousada no booking. O meu celular (Tim), desde o momento em que pisamos em El Chaltén até a hora em que saímos, ficou completamente sem sinal. É uma aventura!

Como a previsão para o dia seguinte era de mais sol (estávamos tendo muita sorte!), fomos dormir ansiosos, pensando nas trilhas que nos aguardavam logo pela manhã.

No próximo post você vai ler um texto escrito por mim e publicado no site O Viajante. Quer entender um pouco mais sobre El Chaltén, e descobrir por que essa cidade atrai trekkers e montanhistas de todo o mundo? Então não perca, é amanhã no blog!
















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