terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Rússia: roteiro de 15 dias entre Murmansk e São Petersburgo


No último post, falei sobre nossas impressões gerais e dei algumas dicas sobre a Rússia, com base nas nossas 2 viagens ao país. Agora vou compartilhar o roteiro da nossa viagem do ano passado, pelo noroeste russo: 15 dias entre Murmansk e São Petersburgo.

Lago Malyy Vudyavr



Muita gente vai a São Petersburgo, e, por incrível que pareça, muita gente também está indo para Murmansk, a capital russa da aurora boreal. Há alguns anos nem se ouvia falar dessa cidade, mas ela vem crescendo em popularidade entre os viajantes brasileiros, que estão descobrindo que ver a aurora boreal na Rússia é muito mais barato que na Noruega, na Islândia, na Finlândia ou no Alaska...

Só que esses que estão se aventurando até Murmansk, em geral, chegam lá de avião, ficam uns dias e vão embora voando também. Ou, se começam a viagem por São Petersburgo, vão a Murmansk numa jornada de mais de 24h de trem, sem parar em nenhum lugar no caminho. 

Mas tem muita coisa para ver ao longo dessa estrada de 1.337km, cercada de vastas florestas por todos os lados. Então este post é para quem, como nós, é adepto do "slow travel" e quer quebrar em partes essa distância tão grande. 

Aqui vai o nosso roteiro completo, começando em Murmansk e terminando em São Petersburgo, com dicas sobre todos todas os lugares que conhecemos no caminho.

* A maior parte do tempo nos deslocamos pedindo carona na estrada, mas também usamos ônibus e Blablacar.

* Clique aqui para ver o mapa em detalhes.




23/9 - Chegada a Murmansk

Cruzamos a fronteira da Noruega (Kirkenes) com a Rússia de manhã bem cedo, e fomos de carona até Murmansk, uma viagem de quase 4h. Falei bastante sobre essa estrada militarizada e sobre o procedimento de entrada na Rússia no post anterior.

Chegamos em Murmansk por volta do meio dia, deixamos nossas malas num hotel e saímos para explorar a área central.


O navio quebra-gelo Lênin







Murmansk é a maior cidade acima do círculo polar Ártico, com 300.000 habitantes. Não vou mentir: é uma cidade feia, cinzenta, industrial e esburacada. De todo o nosso roteiro pela Rússia, foi a cidade que menos gostamos.

O tempo em Murmansk é típico polar, com variações absurdas num curto espaço de tempo. Uma hora está chovendo muito, dali a 5min sai o sol e o céu fica azul, depois o tempo fecha e chove torrencialmente de novo.

À noite, nosso anfitrião do Couchsurfing foi nos buscar de carro no hotel e nos levou para a casa dele, no norte da cidade, a 8km do centro.


24/9 e 25/9 - Teriberka

Passamos esses 2 dias em Teriberka, um vilarejo à beira do Oceano Ártico que é o lugar mais isolado onde eu já estive. Como foi o nosso lugar preferido na Rússia, escrevi sobre Teriberka num post específico - clique aqui para ver.




26/9 - Murmansk


Usamos nosso segundo dia em Murmansk para terminar de conhecer a cidade. Passamos o dia todo na rua, e fomos em parques, igrejas, monumentos e outras atrações turísticas:












27/9 - Murmansk - Montanhas Khibiny

Antes das 6h da manhã, nosso anfitrião nos levou de carro até a saída sul de Murmansk. De lá, conseguimos uma carona direta e super rápida até o nosso destino: a região das montanhas Khibiny, onde chegamos pelas 9h. 

A cidade de Kirovsk é a melhor base para fazer os passeios nas montanhas. Nós ficamos hospedados um pouco mais para o norte, no distrito de Kukisvumchorr (ou só Kukis), também um ótimo lugar para ficar.

O nosso anfitrião do Couchsurfing estava viajando, mas deixou a chave do apartamento dele com um amigo, para que pudéssemos nos acomodar por lá. Nós não chegamos nem a conhecê-lo pessoalmente! Para quem acha que isso é novidade, já nos aconteceu várias vezes com o Couchsurfing...

A vista do nosso AP de dia...

... e à noite

Por outro lado, o chefe do nosso anfitrião (sim!!) se interessou muito por nós. Não é pra menos: vínhamos de um país tropical e estávamos viajando a passeio, em setembro, para uma cadeia de montanhas acima do círculo polar, um lugar que raramente recebe estrangeiros mesmo na alta temporada. Ele foi um grande amigo, que nos ajudou muito ao longo da nossa estadia.

O turismo nas montanhas Khibiny é quase que exclusivamente de esqui. Fora do inverno (como era o nosso caso), todos na Rússia acham muito estranho fazer turismo por lá. Os teleféricos ficam desligados e fazer trilhas pelas montanhas não é algo muito comum, tanto que elas nem são bem demarcadas.

O nosso plano era ficar uma semana nessa região, explorando bastante as montanhas e lagos, porém tivemos muito azar com o tempo. Os 2 primeiros dias foram bons, mas depois disso a previsão era de uma semana inteira de chuva. Até esperamos mais um dia, na chuva, para ver se mudava, mas como isso não aconteceu acabamos tomando a difícil decisão de abandonar as montanhas muito antes do planejado.

Apesar disso, nos 2 dias úteis que tivemos lá, fizemos uma correria e conseguimos conhecer mais do que muita gente conhece em uma semana!

No primeiro dia, ficamos só na área urbana. Demos longas caminhadas por Kukis e Kirovsk, e em volta do lago Bolshoy Vudyavr, que fica entre as duas.





Plantas estranhas em Kirovsk




À noite, o chefe do nosso anfitrião nos levou para um passeio noturno no parque de Kirovsk.


28/9 - Montanhas Khibiny

Nesse dia, o chefe do nosso anfitrião nos levou para uma maratona de passeios que durou o dia inteiro, de manhã cedo até a noite. Foi o jeito que achamos para conhecer vários dos lugares que queríamos, já que seria o último dia sem chuva. Um dia cansativo, mas muito bem aproveitado.

Começamos indo até o lago Malyy Vudyavr, de carro. De lá, seguimos a pé pela estrada de cascalho, que termina na base de uma montanha, ao norte do lago. Subimos nessa montanha e depois descemos pelo mesmo caminho. Foi um passeio que nos tomou várias horas e valeu muito a pena.











Em seguida, fomos para o outro lado de Kirovsk, próximo à estrada que leva a Apatity, e fizemos outra trilha: a dos Blue Lakes (não sei o nome em russo), 2 lagos bem pequenos mas muito bonitos. Caminhamos cerca de 45min para chegar até eles, mas eu não sei exatamente as coordenadas para colocar aqui pois o nosso amigo ia nos guiando e eu nem prestei muita atenção no mapa...

A trilha começa atrás dessa igreja, na saída de Kirovsk




No final da tarde, fomos para Apatity, uma cidade um pouco maior, que fica a 20min de Kirovsk. Demos um passeio pelo centro e jantamos numa pizzaria.





29/10 - Montanhas Khibiny

Nesse dia só choveu do começo ao fim. 

De manhã, mesmo na chuva, fomos novamente até o lago Malyy Vudyavr, para tentar fazer algum passeio por lá. Porém o chão estava todo embarrado e a chuva só estava piorando, então tivemos que voltar para casa.

De tarde, demos um passeio pelas ruas de Kukis e visitamos o museu do vilarejo, que é bem grande e nos surpreendeu muito. Uma funcionária completamente louca grudou em nós e nos fez um tour gratuito em inglês por todas as áreas do museu, que tem de tudo: objetos e fotos antigas contando a história da região, obras de arte, muitos animais empalhados e cenários de natureza recriados... Ficamos mais de 1h no museu e foi o que salvou o nosso dia.



30/9 - Montanhas Khibiny - Kem

Mais um dia inteiro de chuva. 

Saímos de manhã de Kukis e fomos de carona até a pequena cidade de KemEsse trajeto tem 5h, mas demoramos mais do que isso porque chovendo é mais difícil conseguir carona. No meio do caminho, saímos do Círculo Polar Ártico (estávamos dentro dele desde o dia 31/8). A paisagem na estrada é muito bonita, especialmente no outono - se estivéssemos dirigindo um carro alugado, eu teria parado muitas vezes para tirar fotos dos lagos e florestas. 

Chegamos em Kem no fim da tarde e fomos alojados num ótimo apartamento que pertencia à família do nosso anfitrião mas estava desocupado. A mãe dele só nos encontrou lá para abrir a casa e em seguida já nos deixou sozinhos.

Demos um passeio noturno por Kem, mas, como a cidade não é bem iluminada, não aproveitamos muito.


1/10 - Kem e Rabocheostrovsk

De manhã, fomos passear em Rabocheostrovsk, um vilarejo que fica 10km a leste de Kem, às margens do Mar Branco.

A principal atração de Rabocheostrovsk é uma pequena igreja ortodoxa de madeira abandonada. O local está parcialmente destruído, mas conseguimos entrar lá e andar pelo interior. Muito interessante!





Demos também um passeio de 1h sem muito rumo, pelas ruas residenciais do vilarejo. 





É de Rabocheostrovsk que partem barcos para as Ilhas Solovetsky, onde foi construído um dos primeiros campos de concentração soviéticos, o Gulag. Gostaríamos de ter conhecido essas ilhas, porém na baixa temporada os barcos não têm dia e horário fixo para partir. Havia um barco partindo para lá naquela manhã, porém ele só poderia nos trazer de volta 4 dias depois - então, como não queríamos ficar todo esse tempo nas ilhas, acabamos desistindo.

Voltamos para Kem de "carona" com uma viatura policial - contei sobre essa aventura neste post.

Em Kem, passamos várias horas dando um longo passeio que contemplou todas as ruas da pequena cidade.









O que eu mais gostei de conhecer foi o cemitério de Kem, que fica dentro de uma floresta fechada. Ficamos quase 1h caminhando por lá.



Na verdade, gostamos bastante de Kem porque o outono estava em seu auge, então toda a cidade estava muito bonita. Nas outras estações, não deve ser nada de mais - porém, ainda assim, é uma excelente opção de pernoite na longa estrada Murmansk - São Petersburgo, já que fica exatamente no meio do caminho entre as montanhas Khibiny e Petrozavodsk, nosso destino seguinte.


2/10 - Kem - Petrozavodsk

Passamos a manhã em Kem e, ao meio dia, fomos de carona para Petrozavodsk, uma cidade bem maior (5h de carro).

Chegamos lá no fim da tarde, e uma coincidência incrível aconteceu na nossa última carona: o motorista fazia questão de nos deixar na porta do prédio do nosso anfitrião, então passamos para ele o endereço e ele colocou no GPS. Quando descemos lá, ele colocou no GPS o endereço para onde ele estava indo, a trabalho, e para a nossa surpresa era o prédio exatamente em frente ao nosso, numa cidade com quase 300.000 habitantes!

Como nosso endereço ficava um pouco afastado do centro, e estava chovendo, só ficamos em casa o resto da noite.


3/10 - Petrozavodsk

Um dia inteiro percorrendo a cidade de Petrozavodsk. 

Assim como Kem, é uma cidade que não apresenta nenhum atrativo especial - porém, no outono, estava espetacular. Petrozavodsk, assim como todas as cidades russas, é cheia de parques, enormes áreas abertas que são um deleite para a vista no outono.











Ficamos um tempão sentados num banco deste parque, certamente um dos lugares mais bonitos que eu já vi na vida (infelizmente as fotos não conseguem retratar):





4/10 - Petrozavodsk - São Petersburgo

De manhã, demos mais um passeio por Petrozavodsk, pois a primeira nevasca do ano estava caindo e o chão estava começando a ficar branco. Foi uma pena que não tínhamos mais dias na cidade, pois seria muito bom voltar aos parques no dia seguinte, quando a neve já teria tomado conta.

Às 11h, pegamos um ônibus para São Petersburgo - não lembro o preço exato, mas foi algo em torno de 5 euros, para mais de 6h de viagem. Qualquer meio de transporte sai muito em conta na Rússia, porque o combustível é barato. Nos guichês da rodoviária ninguém falava inglês. Entregamos os passaportes para que a funcionária escrevesse nossos nomes na passagem, e o resultado foi: Felipe Brasileiro e Adriana Brasileira, pois ela confundiu os sobrenomes com a nacionalidade, kkkkk.

Estrada Petrozavodsk - São Petersburgo


Chegamos à noite em São Petersburgo e fomos direto para o apartamento do nosso anfitrião, muito bem localizado (a 2 estações de metrô do centro).


5, 6 e 7/10 - São Petersburgo

Passamos 3 dias inteiros em São Petersburgo e, com alguma correria, conseguimos ver tudo o que queríamos. Isso porque nós temos um pique bom: acordamos cedo, dormimos tarde e caminhamos mais de 20km por dia. Também não visitamos nenhuma atração paga (não entramos em igrejas e museus  - nem no Hermitage!). Nossos almoços e jantas foram quase todos no McDonald's, então não gastamos muito tempo comendo também. Para pessoas mais "normais", sugiro ficar no mínimo 5 dias na cidade.

A cada dia visitamos uma área diferente de São Petersburgo, e em todas as noites andamos por toda a extensão da Avenida Nevsky, que corta a ilha principal da cidade e é uma das ruas mais bonitas do mundo.

















São Petersburgo é uma grande metrópole (5 milhões de habitantes) e tem uma infinidade de atrações - até ruas residenciais normais são fotografáveis, porque tudo é bonito. Não vou falar sobre cada ponto turístico que visitamos, porque essas informações você acha com facilidade na internet - vou colocar apenas algumas fotos.

No 1° dia, começamos pelo básico - as atrações mais obrigatórias, no centro da cidade.


















À tarde, fomos a pé para a Fortaleza de São Pedro e São Paulo, onde demos um longo passeio também.







No 2° dia, começamos indo para o Park Pobedy. Mais uma vez, é um lugar que no outono estava incrível, apesar de não ser muito atrativo nas demais estações.





De lá, seguimos a pé para a ilha Yelagin. Nos dias de semana você pode visitar a ilha de graça, mas nos fins de semana tem que pagar 70 rublos (nós tivemos que pagar, pois era domingo). Yelagin é um lugar bem interessante, uma ilha cheia de lagos, florestas e outras atrações. Uma volta completa na ilha, como nós fizemos, pode facilmente tomar o seu dia inteiro. No outono as paisagens estavam espetaculares, mas nas outras estações também vale o passeio.











No 3° e último dia, caminhamos novamente pela extensa área do centro e visitamos todos os lugares que ainda não tínhamos conhecido, encerrando nosso roteiro por São Petersburgo.
















8/10 - São Petersburgo - Estônia

De manhã cedo, pegamos um Blablacar de São Petersburgo até Ivangorod, na fronteira com a Estônia. Carimbamos a nossa saída da Rússia, cruzamos a pé a ponte sobre o rio Narva, que separa os 2 países, e seguimos viagem pela Estônia - leia neste post sobre a nossa viagem de 18 dias pelos Países Bálticos.


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Este foi o nosso roteiro de 15 dias entre Murmansk e São Petersburgo. 

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Leia também:

A Rússia não é um país difícil