Turismo sem Clichê: Vila Bela da Santíssima Trindade, MT

Um dos lugares que mais nos impressionou, na nossa viagem de 32 dias pelos estados do MS e MT, foi a região de Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso.

Ainda falta muito investimento em infraestrutura para que Vila Bela se torne tão turística quanto outros destinos no MT, como Nobres, Chapada dos Guimarães ou o Pantanal. Porém, potencial é o que não falta - de todas essas regiões que visitamos, a nossa preferida, sem dúvida alguma, foi Vila Bela.

Ali estão alguns dos lugares mais incríveis que eu já visitei no Brasil e no mundo, como o Cânion e a Cachoeira do Jatobá. E, além dessas, há muitas outras belezas naturais que ainda não foram descobertas - essa é uma das áreas menos exploradas e povoadas do país, cheia de florestas ainda intocadas, onde nenhum ser humano jamais pisou. É o destino mais selvagem que eu já visitei no Brasil.

Como é a cidade de Vila Bela

Vila Bela, que hoje é quase desconhecida dos brasileiros, tem uma história muito interessante: ela foi a primeira capital do Mato Grosso, por estar situada em um ponto estratégico, no extremo oeste do estado, junto à fronteira com a Bolívia. Sua fundação data da época em que essas terras eram alvo de disputas entre portugueses e espanhóis.

Porém, com o passar dos anos, outro centro comercial foi surgindo no estado, e Vila Bela foi ficando isolada, longe de tudo. Por causa disso, e também devido ao surgimento de doenças, a capital acabou sendo transferida para Cuiabá - o que fez com que os moradores de Vila Bela abandonassem a cidade deixando tudo para trás: casas, negócios e até escravos. E foram justamente esses escravos e seu descendentes que, permanecendo ali, sobreviveram e fizeram de Vila Bela o que ela é hoje - uma cidade de 15.000 habitantes.

Abaixo, as ruínas da antiga catedral de Vila Bela, na praça central da cidade:

Localização

Como eu disse, Vila Bela fica muito, muito longe de Cuiabá. São 520km de distância entre as 2 cidades, trajeto que é feito de carro em umas 7h, pois na maior parte da estrada você deve andar devagar devido à travessia de animais silvestres. Nós vimos um número absurdo de bichos mortos no acostamento - muitos tamanduás, tatus, cachorros-do-mato, uma anta e até um filhote de onça-pintada!

Para não tornar essa viagem tão cansativa, recomendo muito parar em Cáceres, que fica no meio do caminho, e conhecer a Dolina da Água Milagrosa.

Você também pode chegar em Vila Bela de ônibus, direto de Cuiabá ou parando em Cáceres.

Obs.: não sei por que, no Google Maps se você pesquisa por "Vila Bela da Santíssima Trindade", o mapa aponta outro lugar. Então pesquise por "Prefeitura Municipal de Vila Bela da Santíssima Trindade".

Preços: passeios, hospedagem, alimentação

De todos 18 estados brasileiros que já conheci, o Mato Grosso é com certeza o mais caro, e Vila Bela não escapa à regra.

Passeios

Os passeios, teoricamente, são gratuitos - o que acontece é que o acesso até eles é difícil, as trilhas não são bem sinalizadas e muitas vezes não há um caminho marcado, então você precisará ir com alguém que conheça o local e possa lhe indicar por onde caminhar. Nós recomendamos muito (muito mesmo!) o melhor guia da região, que ama o que faz, conhece cada palmo de cada trilha (inclusive ele que as mantém) e nos recebeu da melhor forma possível: o Alcindo Crespo - Whatsapp: 65 999573787 ou 65 999233483. Os preços da diária de um guia sempre variam muito de acordo com o número de pessoas do grupo - para um casal, o preço gira em torno de R$150 (R$75 por pessoa) - temporada 2018.

Nós sempre procuramos fazer tudo sozinhos (para economizar e também porque preferimos), e somos os primeiros a desconfiar quando lemos relatos de que é preciso contratar um guia para fazer determinado passeio - mas pode acreditar, em Vila Bela realmente é necessário. Claro que, se você for num fim de semana de sol, na alta temporada, provavelmente vai haver mais turistas por lá, então basta você seguir o grupo para não se perder, e assim poderá conhecer tudo sem a necessidade de um guia. Nós fizemos 2 passeios num domingo e 2 numa segunda-feira, em dias bem frios de junho (baixa temporada), e não havia praticamente ninguém por lá.

Hospedagem

Como nós ficamos na casa de um amigo, não temos muitas informações sobre isso, porém já deu para sentir que hospedagem em Vila Bela também custa caro. O hotel que nos indicaram como o mais barato da cidade tinha diárias a partir de R$100 o quarto duplo (e era um hotel super simples). Outro hotel também oferecia uma área de camping, por absurdos R$30 por pessoa (não por barraca) - e pensar que por R$60 já nos hospedamos em pousadinhas ótimas pelo Brasil e no exterior, com banheiro no quarto, ventilador, ar condicionado e café da manhã!

Alimentação

Recomendamos muito um dos únicos restaurantes da cidade: o Brittu's Bar, que abre à noite todos os dias exceto segundas-feiras. Jantamos espetinho de alcatra acompanhado de arroz, mandioca e outras coisas, e foi R$13 por pessoa. Tirando esse lugar, achei Vila Bela cara para comer e também para comprar comida no mercado.

Uma coisa inacreditável é que chegamos de um passeio no domingo à tarde, mortos de fome, e não conseguimos encontrar um único estabelecimento aberto para comer. Nem um restaurante, nem uma lanchonete para comprar um salgado, nem uma barraquinha de rua, absolutamente nada. Dos vários mercados, apenas um estava aberto, e sem nenhum lanche para oferecer também - não tinha nem pão francês. Tivemos que matar a fome com salgadinhos Elma Chips! Não entendo como isso pode acontecer, pois essa é justamente a hora e o dia em que todos os turistas estão voltando das trilhas, cansados, com fome, daí chegam na cidade e não encontram NADA para comer - veja bem que não estou exigindo preço barato nem qualidade, é apenas ter alguma coisa, qualquer coisa. E não estamos falando de um vilarejo minúsculo - a cidade tem 15.000 habitantes.

Obs.: depois ficamos sabendo que a Lanchonete do Paraná, em frente à praça central, é o único lugar que costuma abrir aos domingos à tarde, porém naquele dia o dono havia saído.

Como se locomover em Vila Bela

A área onde estão todas as atrações é a Serra Ricardo Franco, que fica a 20km do centro da cidade. Para chegar até lá não há ônibus - você precisará de um carro, ou então faça como nós e vá de carona. É uma estradinha de chão onde passam carros o dia inteiro, com alguma frequência - e é provável que o primeiro carro que passe já pare para lhe levar.

Esta é a paisagem da estrada que envolve a Serra:

Roteiro de 2 dias inteiros

(ideal para 3 noites em Vila Bela)

Dia 1 - Cascatinha, Cascata dos Namorados e Cânion do Jatobá

Começamos fazendo o passeio mais fácil: a trilha da Cascatinha e da Cascata dos Namorados. É um passeio tranquilo e acessível para pessoas de qualquer idade e condicionamento físico, já que não envolve muita subida. Do estacionamento até a Cascata dos Namorados, parando antes na Cascatinha, você levará no máximo 1h (só ida), se caminhar bem devagar.

Cascatinha:

Cascata dos Namorados:

Concluído o passeio, voltamos para a estrada de chão e seguimos mais 2km de carro, até a entrada do Sítio Recanto 7 Kedas. Essa é a fazenda por onde se entra para visitar o famoso Cânion do Jatobá, e a entrada custa R$5 por pessoa. O local também oferece espaço para camping, porém não sei o preço - você pode perguntar direto para o Rodrigo, proprietário da fazenda - telefone 65 998053241.

A entrada para a trilha do cânion - nenhuma placa indicando, mas é aqui!

A trilha, da fazenda até o cânion (só ida), levou cerca de 40min (em ritmo normal, parando para tirar fotos). Como nós fomos na estação seca, fizemos a maior parte da caminhada sobre as pedras, por onde, na estação de chuvas, corre o rio. Se você for na estação úmida, que vai de novembro a março, prepare-se para molhar o calçado, atravessando o rio!

Como eu já comentei, o Cânion do Jatobá é um dos lugares mais bonitos do Brasil, e infelizmente as fotos não conseguem traduzir isso:

Para voltar, fizemos outro caminho, e não o mesmo da ida - em determinado momento da trilha, viramos à direita em direção a uma estrada de terra. Passamos por uma área muito bonita, com uma paisagem bem característica do cerrado, e acabamos saindo direto na estrada principal, sem passar pela entrada do Sítio Recanto 7 Kedas. Esse caminho é um pouco mais longo.

Obs.: recomendo que você faça o contrário do que nós fizemos - vá ao cânion de manhã, para aproveitar o sol incidindo bem sobre a água, e visite as cachoeiras à tarde.

Dia 2 - Cachoeira do Jatobá e Cânion do Jatobá (de novo)

No nosso segundo dia em Vila Bela, fomos conhecer a maior cachoeira do estado e a quarta maior do Brasil, que despenca a 250m de altura.

A trilha da Cachoeira do Jatobá também parte da estrada que margeia a Serra Ricardo Franco, ao lado do Sítio Recanto 7 Kedas, e, ao contrário da que fizemos no dia anterior (Cascata dos Namorados), não é pra qualquer um. São 4,5km (só ida) e com um grande trecho de subida intensa. O tempo médio que se leva para subir é 2h30, mas quem está em forma e é acostumado a fazer exercícios pode subir bem mais rápido. Nós levamos 1h40, indo num ritmo tranquilo e com muitas paradas para fotos.

Muita neblina de manhã cedo, com 15°C

Na reta final do trajeto, há um mirante de onde você pode ver toda a serra e também avistar a Cachoeira dos Macacos. Como junho é estação seca, ela estava quase sem água, e praticamente só dava para ver o arco-íris que se forma em volta:

Pássaros que vimos perto da Cachoeira dos Macacos

A vista para a serra, do outro lado

A chegada à Cachoeira do Jatobá foi o melhor momento do nosso roteiro de 17 dias pelo MT. Confesso que, assim como aconteceu com o cânion, pelas fotos eu jamais podia imaginar que se tratava de algo tão forte e impressionante - é um daqueles lugares que só quem vai pode saber como é!

Primeiro, você vê a cachoeira de frente, desse mirante:

Em seguida, você pode caminhar até o segundo mirante, para ver o ângulo mais famoso da cachoeira, com ela meio de lado entre os 2 paredões do cânion.

Por fim, você dá a volta e chega até o outro lado, uma extensa área plana de pedras onde está o rio que desemboca na queda.

Havia bandos enormes de andorinhas voando ao redor da cachoeira, o que deixou a paisagem ainda mais incrível:

Para voltar todo o caminho, até chegarmos novamente à estrada, levamos 45min.

Contando com todas as paradas, o descanso e o tempo para o lanche ao lado da cachoeira, levamos cerca de 4h30 no passeio, das 8h às 12h30, do começo da trilha até o final.

Recomendo que você faça essa trilha com uma calça comprida, pois em diversos momentos há plantas mais altas que ficam roçando nas nossas pernas.

Como retornamos cedo, e ainda tínhamos a tarde toda pela frente, decidimos ir no cânion outra vez. Nesse dia estava um pouco mais quente, então enfrentei a água gelada e nadei até o outro lado do rio. É legal ter a visão de lá também, mas não consegui tirar fotos porque estava sem a Gopro.

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E este foi o nosso roteiro de 2 dias / 3 noites por Vila Bela, fazendo os passeios mais conhecidos da região. Se você ficar mais tempo, com certeza vai achar muito mais trilhas para fazer e lugares para visitar - claro que com a ajuda de um guia. Um lugar que várias pessoas nos recomendaram, mas não visitamos, foi a Cachoeira do Capivari, no sítio do Edmilson Goiano.

Para maiores informações, ou se você quiser contratar o melhor guia da região, fale com o Alcindo Crespo - whatsapp 65 999573787 ou 65 999233483.