domingo, 2 de novembro de 2014

Caminhando entre os pinguins

De todas as atrações de Ushuaia, sem dúvida a que eu mais queria conhecer era a Isla Pinguinera - local onde, como o próprio nome já diz, é a casa de milhares de pinguins. 

Não sei por que, mas eu sempre gostei muito dessa ave tão desajeitada que vive no sul do mundo. Ainda criança, conheci os pinguins do Ceclimar - órgão auxiliar da UFRGS, na praia do Imbé, que recolhe animais doentes que chegam ao nosso litoral, cuida deles e depois os devolve ao ambiente. Mais tarde, visitei o Gramadozoo (em Gramado), que conta com um casal de pinguins sobreviventes de um de derramamento de óleo em Santa Catarina. Segundo os veterinários (espero ser verdade), esses animais não têm como voltar para a natureza - por isso são mantidos e cuidados pelo zoológico. Por fim, visitei Boulders Beach, na África do Sul, onde consegui ver os pinguins livres e soltos no seu hábitat natural - mas não foi possível caminhar entre eles, só observá-los por trás de uma cerca.

Portanto, foi só no dia 18/02/13, em Ushuaia, que eu pude finalmente passar um bom tempo com os pinguins, ficando a poucos centímetros de distância deles e entendendo um pouco mais sobre o seu universo e suas espécies.




Antes de mais nada, você precisa saber que ver pinguins não é de graça - pelo contrário, é até bem caro. A excursão que contratamos com a empresa Pira Tour (a única que tem acesso à ilha dos pinguins) custou 650 pesos - cerca de R$ 170 - para um passeio de apenas 6h (em que apenas 1h é dedicada aos pinguins!). Se você não tem muito interesse em conhecer de perto essa ave, então nem perca seu tempo e seu dinheiro! Mas para mim, que sempre tive vontade de fazer esse passeio, valeu cada centavo!

O ponto de partida da excursão é a própria barraca da companhia Pira Tour, junto ao porto de Ushuaia. De lá pegamos um ônibus que nos conduziu até a Estância Harberton, num longo percurso de 75km que levou mais de 1h. Em algumas partes da estrada foi possível enxergar Puerto Williams, do outro lado do Canal de Beagle (falei sobre isso neste link). 

Arco-íris na Estância Harberton


Chegando na estância, fomos encaminhados ao Museu Acatushún de Aves e Mamíferos Austrais, onde são expostos animais empalhados, cenários recriados e explicações sobre a fauna patagônica. A visita ao museu demorou quase 1h e eu já não aguentava mais de tédio - para mim, 20min é o tempo limite!

Finalmente embarcamos na lancha que nos levaria à Isla Martillo - verdadeiro nome da ilha apelidada de Pinguinera. Esse trajeto pelo canal é feito "com emoção", segundo os próprios guias - já que o condutor joga a lancha de um lado para o outro, e os passageiros pulam tanto que quase batem a cabeça no teto do barco. Durante esse passeio nós conversamos um pouco com os outros integrantes do nosso grupo - um de cada parte do mundo. Tinha inclusive um belga que chamava a atenção por estar de bermuda numa temperatura que certamente beirava os 0ºC. Ou ele estava tentando aparecer, ou tinha alguma capacidade absurda de não sentir frio.

Quando desembarcamos na ilha, então, fazia sem dúvida o maior frio que eu já senti na vida - superior ainda ao que havíamos sentido no Glaciar Le Martial. Os guias explicaram que a temperatura não estava tão baixa, mas o vento de origem polar fazia com que a sensação térmica fosse abaixo de -10°C. Mesmo cheios de roupa, passamos o tempo inteiro tapando o rosto e tremendo de frio - o que não foi motivo para não aproveitar o passeio.

Eu tinha muitas expectativas sobre a Isla Pinguinera - e elas não apenas foram confirmadas como também superadas! Não há palavras para descrever essa paisagem, tão remota e tão cheia de vida selvagem. 





Das 18 espécies de pinguim existentes, 2 são abundantes na ilha: os pinguins-de-magalhães e pinguins-papua estão por todos os lados (todos mesmo!). Para onde quer que você olhe enxerga dezenas deles, conversando entre si em grunhidos altos e difíceis de suportar. Não é de se admirar pela quantidade de bichos - a ilha é relativamente pequena, e existem por lá mais de 1.000 ninhos de pinguins! E mesmo assim o cheiro, ao contrário do que eu pensava, não é ruim.






Fizemos uma caminhada de cerca de 1h pela ilha - começando na praia e depois entrando bosque adentro e subindo na parte mais elevada, para lá de cima contemplar a ilha como um todo. Durante todo o caminho havia pinguins, que não têm medo dos humanos mas também não chegam a encostar em nós.





Para terminar melhor impossível, tivemos uma oportunidade única de ver o famoso pinguim-rei, que tem o pescoço amarelo e dobro do tamanho dos outros. Essa espécie habita a Antártida e apenas uma ou duas vezes por ano faz turismo na Isla Martillo. Inacreditável que tivemos essa sorte!


Um único pinguim-rei, imperando na Isla Martillo

No caminho de volta para Ushuaia, paramos no meio da estrada para tirar fotos com esta famosa árvore, que se entortou devido à força do vento que sopra do mar:






Você que, como eu, gosta da natureza, dos animais e de lugares pouco "estragados" pelo turismo, reserve um dia para conhecer a Isla Pinguinera! Mas não esqueça que:

- a excursão só sai se o tempo estiver bom, por isso tenha sempre uma agenda flexível;
- esse passeio só é operado nos meses mais quentes (de outubro a março);
- na ilha é MUITO mais frio do que na cidade, então leve muitos agasalhos, touca, manta, luva, calçado impermeável e tudo mais.

Só para constar, a Isla Pinguinera ficou empatada com nossos passeios de El Chaltén na nossa classificação de melhores dias da viagem!


Cara de frio, não de tristeza!!!



No próximo post, um tesouro escondido e nem um pouco turístico: a Laguna Esmeralda!



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