Depois de 20 dias perambulando pela Patagônia sem chuva, eis
que ela resolveu aparecer e atrapalhar, pela primeira vez, nossa rotina de
passeios. Sem chance de uma programação mais interessante, acabei cedendo à
vontade do meu amigo e fomos conhecer o tão famoso Museu Do Presídio de
Ushuaia.
Se fosse um museu de arte, certamente eu não pagaria para
ver! Eu posso ficar horas olhando para obras tão admiradas – pinturas,
esculturas ou seja o que for – e não sou capaz de achar a menor graça em nada.
Reconheço trabalhos bem feitos, é claro, mas também sei que grande parte dessa
minha pequena aversão a museus se deve à banalização do conceito de “arte”.
Hoje em dia, ninguém mais precisa de talento para ser pintor, escultor,
ceramista - esse mercado foi amplamente aberto para todos, o que traz como consequência a perda de conteúdo. A verdadeira arte fica escondida quando começam a ser expostos quadros em branco, quando
rabiscos em uma tela são comprados por milhões ou quando a importância de uma obra não
deriva dela mesma, e sim do seu autor. Qualquer coisa que certo alguém famoso
fez é boa – e qualquer coisa de melhor qualidade, se foi feita por um
desconhecido, não tem valor.
Mas voltando ao assunto (desculpem o desabafo!), como o Museu do Presídio é uma exposição de objetos e
cenários, com cartazes que contam a história de um povo, etc, etc, até achei
que, considerando a chuva, talvez merecesse uma breve espiada. Chegamos lá no meio
da tarde e descobrimos que na verdade o local é um complexo de 4 museus – o Museu
do Presídio (o principal e mais procurado), o Museu Marítimo (com exposição de
objetos usados pelos marinheiros da região e relatos de navegações), o Museu
Antártico (com animais empalhados, fotografias do continente gelado, etc) e o Museu
de Arte Marinha (dedicado a pinturas sobre tudo o que envolve o mar). Compramos
o ingresso de 90 pesos (em torno de R$ 25) que dava direito de acesso aos 4 museus, todos localizados num mesmo prédio.
Estes mapas foram retirados do site oficial do complexo - www.museomaritimo.com
Começamos nossa visita pelo próprio Museu do Presídio, onde tivemos
a experiência de conhecer e visitar o local exato onde antigamente funcionava uma
penitenciária de segurança máxima, localizada no extremo sul do país justamente para dificultar as fugas dos prisioneiros. Era para lá que iam alguns
dos bandidos mais perigosos da época, que ficavam encarcerados nas celas e
caminhavam pelos corredores que, hoje em dia, são tomados de turistas com suas
câmeras.
O Presídio funcionou até 1947, quando foi desativado após uma ordem do
governo, sendo poucos anos depois as instalações cedidas ao Ministério da
Marinha.
A parte que eu mais gostei foi a classificação dos criminosos - se eu fosse um "ladrão fino", também não ia querer me misturar com os "rateiros"!
Para entrar no clima dos detentos, voltamos a cometer algumas
infrações leves:
Depois, seguimos rapidamente para conhecer os outros museus.
De longe, o que mais me interessou foi o Antártico, que recria paisagens com
animais empalhados e traz quadros explicativos com dados do continente. Um dia
ainda quero ir à Antártida, só estou esperando baixar o preço dos cruzeiros até
lá (que custam, saindo de Ushuaia, cerca de R$ 10.000 os mais baratos)! Pelos
museus Marítimo e de Arte Marinha só passamos rapidamente, pois não havia nada lá que nos chamasse muito a atenção.
Depois de todo esse meu sacrifício conhecendo 4 museus,
paramos na lanchonete do complexo, que fica no térreo, exatamente no centro do
prédio. Pedi uma torrada (misto quente) simples, e para a minha surpresa vieram
4 torradas grandes! Perguntei se tinha a ver com o fato de serem 4 museus, mas
a senhora que atendia disse que em Ushuaia aquela é uma porção de tamanho
normal para uma pessoa. Ok então!
Saímos do museu pelas 6h da tarde, cerca de
2h após a nossa entrada. Sinceramente, para ficar mais tempo que isso (contando
a pausa para o lanche) a pessoa realmente tem que gostar de arte e história. Se
você é um mero turista leigo, como eu, recomendo que:
(1) se estiver chovendo,
vá ao museu e fique essas 2h no máximo;
(2) se não estiver
chovendo e você tiver muitos dias na cidade (mais de uma semana), vá ao museu e
fique as 2h;
(3) se não estiver
chovendo e você tiver menos de uma semana em Ushuaia, não vá ao museu!
Claro que o
gosto para passeios varia de pessoa para pessoa, e eu, por natureza, gosto de
ficar ao ar livre o mais tempo possível – principalmente numa viagem! Viajei a
Ushuaia para ficar na rua, para ver pinguins, visitar ilhas remotas, conhecer
glaciares, lagos e florestas. O museu não passou de um plano B!
No próximo
post, fique sabendo onde realmente fica o fim do mundo!
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