O nosso segundo dia em Ushuaia, 17/2, estava reservado para
a excursão de barco pelo Canal de Beagle, com destino à Isla H (Hache, H em
espanhol). Estávamos muito ansiosos por esse passeio, já que teríamos a
oportunidade de conhecer paisagens remotas e selvagens numa ilha pequena e
cujos únicos habitantes são animais.
Porém, quando saímos do Hotel Antartida já estávamos prevendo o
pior. Embora não estivesse chovendo, ventava muito – e quando chegamos até a
barraquinha da empresa Tres Marias a expressão da dona já revelava tudo. O
passeio teria de ser remarcado em função do mau tempo, e como o dia seguinte
(18/2) já estava reservado para a Isla Pinguinera, nos restou agendar a
excursão da Isla H para o dia 19/2.
Voltamos ao hotel para decidir como aproveitar o nosso dia.
Pelo menos não estava chovendo, e poderíamos conhecer algum dos mais famosos
atrativos de Ushuaia (Glaciar Le Martial, Parque Nacional Tierra del Fuego ou
Laguna Esmeralda). Na dúvida sobre como chegar até esses pontos, meu amigo
telefonou, do hotel, para uma ex-professora dele – que estava morando
justamente lá, na última cidade da Argentina.
Mais do que nos dar informações, ela e seu marido foram de
uma generosidade incrível quando se ofereceram para passar o dia conosco, nos
levando de carro para conhecer o que fosse possível. Muito agradecidos,
agarramos a oportunidade e lá fomos nós!
De manhã, o Glaciar Le Martial foi a nossa pedida – distante apenas 10min do centro da cidade, é um dos pontos mais procurados de Ushuaia.
No inverno, o Glaciar funciona como estação de esqui; no verão, é próprio para caminhadas. Munidos dessa informação, que parece ser o lema da Patagônia, pensávamos que encontraríamos uma montanha verde com um lago, a exemplo do que vínhamos vendo ao longo da viagem. E foi aí
que constatamos, de fato, o quanto estávamos despreparados para a Terra do Fogo - lá é neve sempre, inverno e verão!
Menosprezando o clima, acabei chegando lá sem nenhum equipamento (roupa quente e
impermeável, bota impermeável, luvas, etc). Para a minha sorte, o casal de
amigos tinha uma bota e um casaco para me emprestar – e foi só graças a isso
que eu pude aproveitar o dia. Do contrário, uma decisão sensata seria dar as costas e procurar outra coisa para fazer!
O casal ficou na base nos esperando, enquanto eu e meu
amigo começamos nossa aventura pegando o teleférico que leva até a metade da
montanha. Tudo o que víamos no chão era neve, neve, muita neve! Na metade do
trajeto de teleférico começou a nevar forte, e quando chegamos lá em cima
sentimos MUITO frio nas mãos – não aconselho ninguém a ir ao Glaciar Le Martial
sem luvas!!
A trilha que leva efetivamente ao Glaciar, partindo da
estação final do teleférico, demora cerca de 30min. Porém, como estava nevando
demais e nossas botas afundavam na neve espessa, acabou demorando muito mais.
Logo no
começo da caminhada, passamos por uma tempestade de neve que eu nunca tinha
visto igual! Um vento muito forte soprava, e não conseguíamos enxergar
absolutamente nada em volta. Tínhamos de ficar abaixados para que não fôssemos
lançados montanha abaixo pelas rajadas! Na hora foi assustador, mas é sempre bom ter uma
história para contar na volta!
Depois da tempestade meu amigo desistiu de chegar até o
Glaciar, e eu segui sozinho pelo resto da trilha. Como já era previsto, do
glaciar eu não vi foi nada – tudo estava coberto por neve. Só consegui tirar
fotos das placas e de um pequeno lago congelado.
Apesar disso não me arrependo
de ter ido até lá, pois foi a maior experiência com neve que eu já tive – e acho
que vai demorar até eu passar por isso outra vez! Quando estava voltando, vi
que havia cones e placas proibindo turistas de avançar no sentido contrário. Concluí que eu
fui o último que fez a trilha, antes de ela ser fechada devido à
forte nevasca.
Encontrei meu amigo novamente, na estação do teleférico, e decidimos
descer a montanha caminhando, para aproveitar ainda mais o local. O único
problema realmente foi o frio nas mãos, que era de fato insuportável – eu cheguei
a perder completamente o tato por algum tempo! Mesmo assim valeu a pena ter ignorado o
conforto e a rapidez do teleférico, pois pela trilha passamos por paisagens incríveis,
cruzando pontes de madeira no meio de cachoeiras semi-congeladas.
Meia hora depois, estávamos de novo lá na base (onde já não
nevava tanto) e almoçamos um cachorro-quente no restaurante do Glaciar. Foi só então que eu pude
reanimar meus dedos, ficando um tempão na frente da lareira.
Se você vai para a Patagônia procurando muito frio e muita neve, não
há nada melhor que o Glaciar Le Martial!
No próximo post, um rápido resumo do nosso city-tour em
Ushuaia e do passeio à Estância Túnel, que fizemos de carro com nosso casal de
amigos. Não percam!
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