No meio dessa série de posts sobre a minha viagem à Patagônia, achei que seria interessante fazer uma pausa e falar especificamente sobre trilhas, de um modo geral.
Muita gente me pergunta qual a graça que eu acho em fazer uma trilha. Quando eu conto que passei 26 dias na Patagônia fazendo trilhas, por exemplo, chegam a me olhar com pena, como se eu fosse algum tipo de infeliz que quer fugir de tudo e de todos e por isso se mete no meio do mato. Outros podem pensar que sou uma espécie de alienígena que merece ser estudado - afinal, não pode ser normal alguém preferir ficar andando e se cansando ao invés de aproveitar atrações imperdíveis como museus, palácios e lojinhas de suvenir. Para essas pessoas, "mato é tudo igual", "natureza eu gosto é nos livros" e "caminhar, eu caminho na esteira".
Frente a isso, eu me vejo obrigado a responder a uma pergunta absolutamente óbvia, mas que ainda assim insistem em me fazer:
Por que fazer uma trilha?
Vamos começar pelo começo. Você está viajando e quer conhecer alguma atração natural, como por exemplo uma cachoeira. Essa atração está localizada "no meio do mato", e o único acesso até ela é uma trilha por onde não passam carros - ou seja, você tem que ir a pé. Você tem 2 alternativas então: conhecer a cachoeira ou não conhecer. Se você opta por conhecer, então você faz a trilha.
Compreendem? A trilha não é a causa, ela é a consequência. Eu não viajo para determinado lugar disposto a fazer uma trilha, eu viajo para conhecer algum atrativo. Se para isso eu sou obrigado a caminhar pelo meio do mato, tudo bem - se eu não sou, melhor!
Simples, não é? E por incrível que pareça, muita gente consegue não entender uma coisa tão banal. Se a minha intenção na trilha fosse me exercitar, concordo que é muito mais inteligente ficar na esteira!
Logo, podemos concluir que todos os viajantes que estão à procura de beleza natural (como sempre é o meu caso, em primeiro lugar) fazem trilhas - mas fazem isso não por um desafio pessoal, nem para se isolar do mundo, fazem pura e simplesmente porque não podem chegar ao atrativo de carro, ônibus, barco ou qualquer outro meio de transporte! Se eu pudesse dirigir até a o topo da Pedra da Gávea, não tenham dúvidas de que eu faria isso! Infelizmente não existe uma estrada até lá, e ainda não tenho dinheiro para ir de helicóptero - então, para ter a melhor vista do Rio de Janeiro, infelizmente tive que subir a pé! É cansativo e demorado, mas fazer o quê??
Subida sofrida |
A recompensa no topo |
É claro que tem exceções, e El Chaltén é uma delas. As trilhas da Laguna Torre e da Laguna de los Tres, por exemplo, são valiosas por si sós. Mesmo que não existissem as próprias lagunas, ainda assim valeria a pena caminhar nas trilhas, em função da paisagem ao redor - mas, repito, é uma exceção! Via de regra, a trilha não é nada mais do que o caminho que leva o turista ao atrativo.
Vamos então conferir algumas dicas úteis sobre trilhas:
O que levar na mochila?
Fonte: http://www.adventura.com.br/dia-a-dia/mochilas/mochila-crampon-27-trilhas-e-rumos.html
Eu sigo o princípio de que temos que levar sempre o mínimo de peso possível na mochila. Abaixo, algumas coisas que podem lhe ajudar na trilha:
Água - é o item mais indispensável, para trilhas em qualquer lugar, com qualquer duração e com qualquer temperatura. Se for uma trilha onde você pode pegar água de lagos ou rios (certifique-se de que a fonte é potável), não esqueça pelo menos de levar uma garrafinha;
Comida - para trilhas acima de 4h de duração, eu sempre faço um sanduíche para levar. Além disso é bom levar frutas, principalmente banana, e oleaginosas (amendoim, castanha, nozes, etc);
Isotônicos (Gatorade, etc) - eu não costumo levar, mas pode ser recomendável em trilhas mais longas, quando o esforço é intenso;
Câmera;
Mapa ou GPS;
Celular;
Relógio;
Protetor solar;
Boné;
Óculos escuros;
Repelente;
Capa de chuva;
Lanterna;
Kit de primeiros socorros;
Bastão - pode ser útil em trilhas mais longas, para que você se apoie com os braços no chão e, assim, poupe um pouco suas pernas. Em curtas distâncias não vale a pena, a não ser para trekkers mais idosos ou com físico debilitado;
Barraca - usada só para trilhas que têm duração de mais de um dia, e por isso requerem acampamento. Eu nunca fiz esse tipo de caminhada, e se fizesse provavelmente contrataria um carregador para me ajudar com o equipamento. Andar quilômetros e quilômetros, subindo e descendo, com tudo isso nas costas e mais uma barraca, definitivamente não é para mim!
Como se vestir?
O essencial é que você esteja confortável. A roupa varia de acordo com a temperatura, e é importante saber que, no decorrer de uma trilha, pode esfriar ou esquentar muito ao longo da caminhada - principalmente em função da altitude ou da proximidade com rios ou lagos. Uma boa dica para essas situações é uma calça que pode virar bermuda, como esta:
Fonte: http://www.lojatucunare.com.br/produto_14232_311039_calca_mtk_amazon.loja
O calçado tem que ser propício para o trekking - em geral eles são bem caros, mas duram bastante. Em locais úmidos, lembre-se de ir com uma bota impermeável.
Camisetas de algodão não são muito aconselháveis, pois dificultam a transpiração. O ideal são blusas do tecido "dry-fit", como esta da foto:
Fonte: http://www.scantrade.com.br/web/?p=5395
Quando descansar?
Parece besteira falar sobre isso, mas (pelo menos para mim) é muito melhor parar poucas vezes e descansar muito tempo do que parar muitas vezes por pouco tempo. Por exemplo: a caminhada rende bem mais quando você anda 30min sem parar, senta numa pedra e descansa por 10min, do que quando você faz paradas de 10 em 10min para descansar só 1 ou 2min.
Fonte: http://www.tripadvisor.com/LocationPhotoDirectLink-g293890-d4155476-i66843393-Himalayan_Joy_Adventure_Pvt_Ltd-Kathmandu_Kathmandu_Valley_Bagmati_Zone_C.html
E por último nunca se esqueça: numa trilha você está na natureza, não na sua casa! Nada de arrancar plantas, jogar lixo no chão ou perturbar animais pelo caminho!
No próximo post, vamos caminhar pelo "sendero" da Laguna Torre, um dos mais procurados de El Chaltén e de toda a Patagônia!
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