terça-feira, 14 de outubro de 2014

A chegada do dinheiro e uma tarde no Perito Moreno


Após uma boa noite de sono na ótima Hostería Los Gnomos, era chegada a hora da verdade. Depois de uma semana esperando o dinheiro chegar, parecia que finalmente aquele era o grande dia! Se você não acompanhou os posts anteriores, em que eu narrei a saga de dois amigos sem dinheiro na Patagônia, vamos relembrar com um rápido histórico:

05/02 - Nossos cartões de crédito pararam de funcionar, e não tínhamos muito dinheiro em espécie;

06/02 - Meu tio fez o depósito de R$ 4.000, via Western Union, em Porto Alegre;
07/02 - Passamos o dia inteiro no Parque Nacional Los Alerces;
08/02 - Passamos o dia inteiro no ônibus, viajando de Esquel a El Chaltén;
09/02 - Era sábado;
10/02 - Era domingo;
11/02 - Era segunda-feira de Carnaval;
12/02 - Era terça-feira de Carnaval.

Como você pode ver, por inúmeros motivos diferentes nós não conseguimos retirar os tão aguardados R$ 4.000, e naquele dia, 13/2, já faria uma semana que o dinheiro tinha sido depositado.

Nossas economias tinham se esvaído por completo - não restava nem R$ 10 por pessoa quando fomos, naquela manhã, até a agência dos correios de El Calafate. Só podíamos pensar positivo, pois se acontecesse qualquer tipo de problema simplesmente não saberíamos o que fazer!!

O martírio já começou cedo - a fila para atendimento nos correios saía da agência e fazia uma volta até a metade da quadra. Parecia que todos os habitantes da cidade tinham resolvido mandar cartinha depois do feriadão de Carnaval. O jeito era esperar, fazer o quê?!

Depois de 1h, finalmente chegou a minha vez de ser atendido. Mostrei minha identidade e falei que precisava retirar a quantia que tinha sido depositada via Western Union. Na mesma hora, preenchi uma ficha minuciosa, que se duvidar pedia até o fator RH dos meus ancestrais! Tudo isso para a segurança, é claro, de que outra pessoa não receberia o dinheiro usando o meu nome. É importante saber também que, na retirada, você precisa levar xerox do seu documento de identidade (com foto, RG e CPF). 

Quando o bancário começou a contar as notas para me entregar, quase chorei de tanta felicidade! Enfim, depois de uma longa semana de angústia, nossos problemas estavam resolvidos até o fim da viagem!

Recebi na moeda argentina o correspondente à quantia depositada, o que valeu mais ou menos 15.000 pesos. Seria o suficiente para nós dois e (eu esperava) até sobraria dinheiro no fim da viagem - afinal, nos restavam apenas 10 dias de estrada, infelizmente! Quando entramos nos correios estávamos cabisbaixos, preocupados e quietos. Saímos de lá renovados - radiantes, cheios de vontade de aproveitar ao máximo as próximas aventuras (ou indiadas) que teríamos pela frente.

Para aquele mesmo dia, havíamos programado uma visita ao Perito Moreno pela tarde. Não é necessário reservar um dia inteiro para essa grande geleira, já que não há muito o que fazer por lá, além de contemplar a paisagem fria e tirar fotos como esta:



Ao contrário do que eu pensava, o Perito Moreno não fica exatamente ali do lado de El Calafate. De carro, você chega lá em aproximadamente 1h30, depois de andar bons 80km pela estradinha cheia de curvas que conduz até o destino:




De transporte público, a coisa fica ainda mais complicada! Só existem 2 ônibus diários entre a cidade e o parque onde está o glaciar - um que sai de manhã e outro no começo da tarde. Nós pegamos o ônibus pelas 13h30 (não lembro o horário exato), na rodoviária de El Calafate, pagando aproximadamente R$ 30 por pessoa (os bilhetes de ida e volta), e fomos chegar ao Perito só depois das 15h


O preço de entrada no parque depende da sua nacionalidade - para brasileiros adultos (o meu caso) custou cerca de R$ 25. Lá dentro, existem diversos caminhos que você pode recorrer, sempre pisando muito firme sobre passarelas bem pavimentadas - ao contrário das trilhas rústicas de El Chaltén!  Aqui também passeiam tranquilos carrinhos de bebê e cadeiras de rodas  - o que é impensável, por exemplo, na trilha da Laguna Torre.




São quilômetros e quilômetros de passarelas com diversos mirantes pelo caminho. Você pode ver o imenso Perito Moreno de cima, de frente, de lado e de todas as posições possíveis e imagináveis. 




Mas é só isso! A paisagem não muda nunca - por mais que você caminhe, sinceramente não há nada para ser visto além da geleira. 




Você até pode dar um tempo tomando a trilha que passa através de uma floresta, mas garanto que também não é nada que vai lhe tirar muito da monotonia.




 

Outra coisa que me decepcionou um pouco foi o fato de ficarmos tão longe do Perito Moreno. Nas fotos que eu via na internet, e na minha concepção anterior, os turistas chegavam bem próximos da geleira, quase a ponto de poder tocá-la! A realidade é severa - ficamos é bem afastados. Mas isso dá pra entender, afinal aqueles blocos gigantescos de gelo podem desabar a qualquer momento, gerando um estrago de enormes proporções. Mesmo os abalos pequenos geram impacto - por mais de uma vez, ouvimos um barulho forte como se fosse uma trovoada e, quando fomos ver, nada mais era que o gelo do Perito se despedaçando e tombando na água, em efeito dominó.




Agora, se você mesmo assim quiser se aproximar um pouco, o jeito é contratar uma das excursões de barco (caríssimas) ou até o icetrekking - que, como eu já comentei no último post, dizem que é inferior ao que nós fizemos no Glaciar Viedma.

Se bater a fome, fique sabendo que a única lanchonete do parque é imensa, mas fica tão atrolhada de turistas que você demora 1h só para conseguir pedir alguma coisa. Nós só lanchamos um picolé porque não estávamos com paciência de aturar os garçons mal-humorados e sobrecarregados de serviço. Uma dica valiosa para um passeio no Perito Moreno é: leve seu próprio lanche.


Em pouco mais de 1h nós conseguimos andar pelo parque inteiro, tirar muitas fotos e até comer picolé. Como ainda tínhamos que aguardar o ônibus que nos levaria de volta a cidade, resolvemos passar o tempo restante cometendo inofensivas infrações:






É como eu falei, você não precisa dedicar muito tempo a este atrativo e também não pode esperar nada além de ficar de frente para um imenso paredão congelado. Conhecer o Perito Moreno é isso. Se ele é bonito, grandioso, diferente? Sim, é. Mas vale a pena pagar R$ 55 (ônibus + entrada) e gastar mais de 3h na estrada (ida e volta) só para ir vê-lo?

Aí vai de cada um. Eu fui porque tinha curiosidade de conhecê-lo, cumpri minha obrigação e já estou quite comigo mesmo para o resto da vida. Não preciso voltar ao Perito Moreno e, para falar bem a verdade, nem mesmo sinto vontade! 




Enquanto eu tiver pernas, vou preferir fazer as trilhas de El Chaltén, pois lá turista e natureza se misturam - enquanto que, em El Calafate, um se contenta em observar o outro de longe.


No próximo post, não perca a melhor atração da cidade (pelo menos na minha opinião) - a desconhecida Laguna Nimez!



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