segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Icetrekking no Glaciar Viedma

No post anterior contei sobre a nossa primeira experiência em El Chaltén - a fantástica trilha da Laguna Torre. Agora é vez de falar sobre um outro passeio imperdível: a navegação ao redor do Glaciar Viedma e a caminhada sobre o gelo (icetrekking).



De longe, esse seria um dos lugares mais diferentes e interessantes que visitaríamos em toda a viagem, por isso já resolvemos deixar a excursão paga no dia anterior. Por indicação do posto de informações, fomos até a principal agência de turismo de El Chaltén: a Patagônia Aventura

Eles nos ofereceram 3 alternativas de passeios: (1) navegação, (2) navegação e icetrekking e (3) navegaçao e iceclimbing (escalada numa montanha de gelo). Logo de cara, o que me chamou a atenção foi a terceira opção - e também, claro, a mais cara (US$ 150). Só que como estávamos com as despesas estritamente contadas só para pagar a estadia na pousada e esse passeio, além de uma refeição diária, tivemos que nos contentar com a opção n.º 2. Mesmo assim, não pensem que foi barato! Um passeio desse tipo NUNCA vai ser barato, pois envolve um barco, guias experientes, equipamento, etc. O preço que pagamos foi US$ 120 por pessoa (quase R$ 300) e eu considerei que, em todo esse contexto, não foi tão exorbitante assim.

Ainda na agência, eles nos explicaram que, para andar sobre o gelo, teríamos que colocar "grampões" (garras de metal) na sola do calçado, para que os pés não deslizassem. Como eu ainda não tinha botas específicas para trekking, e os grampões não poderiam se encaixar nos meus tênis, me pediram para alugar calçados adequados na loja ao lado da agência. 

Além disso, reforçaram bastante a necessidade de levar casacos (pois na geleira é bem mais frio que na cidade), óculos escuros (porque o sol reflete no gelo) e protetor solar. Salientaram também que a excursão não inclui qualquer tipo de lanche ou refeição. Tudo para depois ninguém dizer que não foi avisado!

No dia seguinte, 10/02, pouco antes do horário do passeio, fomos até a tal loja ao lado da agência. A atendente me entregou os pares de botas, que estavam em péssimo estado, com sola gasta, sujos, rasgados e tudo mais. Reclamei disso, mas infelizmente não tínhamos muito o que fazer, pois a excursão já ia começar e não havia outra loja ali que alugasse os calçados. Pagamos o valor (se eu não me engano, 40 pesos = R$ 10) e embarcamos no ônibus, às 11h, junto com o nosso grupo de aproximadamente 30 pessoas.

Descemos do ônibus na Bahía Túnel, na beira do Lago Viedma, onde tomamos a embarcação rumo à grande geleira. 




O barco tinha 2 andares, sendo que o de baixo era coberto e tinha mesas e assentos para todos os passageiros. Foi lá que sentamos na companhia de um casal de cariocas e almoçamos os sanduíches que havíamos levado. O casal transbordava desânimo! Parecia que aquela era a vigésima vez que faziam essa excursão - só isso explica eles não demonstrarem um mínimo de interesse.

Depois de comer, subimos para o segundo andar e lá estava ventando e fazia MUITO frio! Não esqueça de se agasalhar bem para fazer esta excursão! Apesar disso, ouso dizer que a paisagem é tão espetacular que o frio se torna quase psicológico! 







Para nós, que nunca tínhamos visto icebergs, foi uma experiência emocionante. Quanto mais próximos chegávamos do grande Glaciar Viedma, mais a paisagem se transformava e tudo o que víamos era gelo, gelo e mais gelo!






Após mais de 1h de navegação, desembarcamos em uma zona de rochedos, maravilhados com tudo ao nosso redor. Era um festival de cores que nenhuma foto, por melhor que seja, consegue transmitir.






Nosso grupo foi dividido em 3, cada turma acompanhada por 2 guias (daí você já vê para onde foi o seu dinheiro - eles têm 1 guia para cada 5 ou 6 turistas). Um dos pequenos grupos era para quem falava inglês, e os outros 2 para quem falava espanhol. Como não havia gente suficiente no de inglês, nos candidatamos a ir para o grupo deles - e foi muito bom, pois nos livramos dos brasileiros apáticos. Ninguém merece ficar perto de gente mal-humorada, afinal. 

A primeira parte da caminhada é feita pelas rochas, cuja coloração passa por todos os tons de marrom, laranja, vermelho e até amarelo, com intervalos para pequenas piscinas de água verde.







Andamos por cerca de meia hora, sempre bem orientados pelo guia, até que chegamos à geleira. 




Nem tudo é tão branco como a gente pensa - muitas partes do gelo possuem resquícios das rochas, e por isso ficam um pouco mais escuras. Mas garanto que não é sujeira - é só pedra!





Antes de começar o passeio sobre o solo gelado, sentamos e colocamos os grampões nas botas. Foi nessa hora que os guias, quando viram o calçado que eu tinha alugado, se espantaram muito. Como que alguém é capaz de alugar uma bota nesse estado? - foi o que me perguntaram. Se eu já estava com ódio daquela mulher da loja, fiquei ainda mais depois desse comentário. Mas já que eu estava lá, melhor era abstrair e aproveitar ao máximo possível!

Alguns turistas, especialmente os mais velhos, ficaram bem apreensivos quando viram os grampões. Pensaram que iam ficar resvalando de um lado para o outro no gelo e até cogitaram desistir!




Mas acreditem, é muito fácil - pelo menos, muito mais do que imaginávamos! Não tivemos problema nenhum com desequilíbrio nem escorregões. Íamos sempre em fila, pisando nos mesmos lugares onde o guia pisava, um ajudando o outro, e num ritmo bem devagar. É um passeio para qualquer idade!




O icetrekking durou pouco mais de 1h. Passamos por lugares muito interessantes, com vistas do lago e até do interior de grandes fendas na geleira.  Nessas fendas a gente tinha que ter muito cuidado para não cair, e só uma pessoa por vez podia chegar perto e espiar dentro da abertura - sempre bem segurada pelo guia. A cor lá dentro é mais uma vez indescritível, mas você pode ter uma vaga ideia pelas fotos:





Não dá para ver muito bem, mas esta é como se fosse uma colmeia, cheia de favos - só que azul:





Ao final, o guia distribuiu amarula para todo mundo, com cubos de gelo retirados direto do glaciar - água mais pura, impossível! Fizemos um divertido brinde coletivo e ficamos alguns minutos conversando. Seria muito normal se não estivéssemos no interior de uma geleira!






Em seguida, encontramos os outros 2 grupos e percebemos que o casal de brasileiros continuava com a mesma cara! Vai ver é a cara deles mesmo, fazer o quê?

Depois disso, pegamos o barco e o ônibus de volta para El Chaltén. O passeio estava terminado, mas as lembranças dessa aventura ainda estão fervilhando nas nossas memórias, quase 2 anos depois. Não me arrependo de não termos feito a escalada no gelo - acho que a caminhada foi bem mais produtiva para quem não tem a menor noção de alpinismo!




Assim que voltamos, fui na loja devolver a bota alugada - se meu documento de identidade não estivesse lá eu nem teria devolvido, de tanta raiva que eu estava! Falei que aquilo não prestava, que entrou água nos meus pés, que até os guias acharam um absurdo, mas de nada adiantou. Não consegui meu dinheiro de volta e a mulher ainda ficou debochando da minha cara! Saí de lá falando para ela que 10 amigos meus estavam chegando em El Chaltén e eu diria a eles que não passassem nem perto da loja dela. Claro que era mentira, mas o que importa é que ela não sabia disso.

À noite, depois do estresse na loja, tivemos uma recompensa incrível: um risoto de frango com açafrão no restaurante La Senyera. Sem palavras para descrever esta refeição, que sem dúvida foi a melhor de toda a viagem!

Ficamos pensando qual dia tinha sido melhor - este ou o anterior, quando fizemos a trilha da Laguna Torre. São duas coisas bem difíceis de comparar, e por isso optamos por um empate. Os dois passeios tinham sido os melhores de toda a viagem até então, e El Chaltén estava se tornando a campeã absoluta do nosso roteiro na Patagônia. 

Afinal, em que outro lugar poderíamos tirar uma foto assim, com 6 ou 7 cores bem definidas, cada uma no seu quadrado?




Ainda restava muita expectativa para o dia seguinte, por 2 motivos. O primeiro era que seria segunda-feira, e FINALMENTE receberíamos o nosso tão esperado dinheiro! O segundo era porque faríamos a trilha da Laguna de los Tres, ainda mais aclamada que a Laguna Torre.

O dia 11/02/2013 prometia muito, mas nem tudo saiu como o planejado! Você já desconfiou do que pode ter dado errado? Essa data não lhe diz nada?

Não perca o próximo post!

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