sábado, 6 de setembro de 2014

5 motivos para NÃO ir a Victoria Falls!


Reconhecidamente um espetáculo da natureza africana, as Cataratas de Victoria – ou Victoria Falls – estão localizadas no rio Zambeze, na fronteira da Zâmbia com o Zimbábue. Muitas pessoas sonham em conhecer essa maravilha, e eu era uma delas até 2012, quando finalmente realizei meu sonho de ver de perto as cataratas. Você pode usar duas cidades como base: Livingston, na Zâmbia, e Victoria Falls, no Zimbábue. Em ambas você tem acesso aos parques onde estão as cataratas – como no caso de Foz do Iguaçú e Puerto Iguazú, na Argentina. Eu fiquei em Victoria Falls.

Sem procurar muitas informações na internet, decidi que teria de ficar lá pelo menos 3 dias, para poder aproveitar bem tantas atividades que o local oferece – inúmeros passeios, esportes de aventura e até um banho na Devil’s Pool (uma piscina natural no topo da catarata, quase no limite da queda). Quando eu vi que as passagens para voltar no dia seguinte (o quarto) eram bem mais baratas do que as do dia anterior (o terceiro), fiquei ainda mais feliz – teria ainda mais um dia para aproveitar! E quando, por mais uma ironia do destino, o meu voo de volta foi cancelado e remarcado ainda para o dia seguinte, quase cheguei ao Nirvana: teria 5 (!!!) dias para desfrutar daquele lugar perfeito e com tantas coisas para fazer!

Mal sabia eu que terminaria meus dias de viagem enfurnado na biblioteca pública da cidade, num calor de 40 graus, sem ventilador, lendo um livro de contos da Agatha Christie.



RAZÕES PARA NÃO IR A VICTORIA FALLS:


1 – FUMO QUE TROVEJA – O nome das cataratas na língua local é Mosi-oa-Tunya, que significa "fumo que troveja". Justamente por isso, em função dessa fumaça de vapor que envolve as cataratas, a chance de vê-las nitidamente é muito pequena! No dia em que eu fui, mesmo o tempo estando ótimo, não pude ver praticamente nada além de uma neblina espessa que encobria toda a paisagem.


 
Esta foi a melhor foto que consegui tirar, depois de ficar 15min esperando a neblina baixar



2 – PREÇOS – Tudo começa já antes da viagem – tanto a Zâmbia como o Zimbábue requerem visto para os brasileiros, que custam US$ 50 e US$ 30, respectivamente, e podem ser comprados na entrada dos países. Hospedagem e alimentação são relativamente caras na cidade de Victoria Falls, se comparadas com outros lugares turísticos da África – paguei mais de R$ 100 a diária do quarto single em uma pousada terrível (vou falar sobre ela em um post específico), e é impossível comer uma refeição decente por menos de R$ 25,00. Mas até aí tudo bem! A entrada para o Parque Nacional Victoria Falls, do lado do Zimbábue, custa US$ 30 – um preço até barato, se compararmos com Foz do Iguaçu. Acontece que, ao contrário de Foz, o parque é minúsculo – em NO MÁXIMO meia hora você pode percorrê-lo totalmente e tirar todas as fotos que quiser! Além disso, lá dentro cobram caríssimo no restaurante e na loja de suvenires. As atividades opcionais, então, são um deboche ao bolso dos turistas – é uma mais absurdamente cara que a outra, como você pode conferir aqui: http://trailsofzimbabwe.com/victoria-falls-price-list (os preços estão em dólares americanos).




            3 – RAFTING – Como o rafting nas corredeiras do rio Zambeze é um dos mais famosos e exóticos do mundo, e eu estava em Victoria Falls, me vi obrigado a pagar os US$ 125 (hoje o preço já aumentou para US$ 140) para fazer o “full day” rafting – sendo que “full day”, em Victoria Falls, não significa dia inteiro, e sim umas 2h de rafting (o resto do dia você perde indo até o local, descendo a encosta até o rio, almoçando e voltando). E o que é pior: até hoje não consigo entender a razão de esse rafting ser tão cobiçado pelos esportistas radicais, porque, pelo menos para mim, nada teve de radical! Sem emoção, sem adrenalina, sem frio na barriga, sem graça – assim é que eu descrevo o meu “full day” que custou quase trezentos reais. Em Três Coroas – RS, eu paguei R$ 35 por um rafting muito melhor!



                 4 – FALTA DE SEGURANÇA – O parque das cataratas, pelo menos do lado do Zimbábue, não tem NENHUMA barreira de proteção! Se quiser, você pode ir até o limite do penhasco, caminhando sobre as rochas, que ninguém vai lhe impedir – não há nem mesmo guardas tomando conta dos locais mais perigosos! Tudo bem que os turistas precisam ter noção e não se expor ao risco de cair lá embaixo, mas é preciso que você saiba que, caso esteja com crianças, não deve soltar a mão delas nem por um segundo. Também existem muitos macacos dentro do Parque, e alguns não são nem um pouco amistosos. Não recomendo andar sem ninguém por perto! Além disso, alguns passeios também não são muito aconselháveis se você se preocupa com a sua integridade. Por exemplo, ao questionar uma agência de turismo sobre o banho na Devil’s Pool, eu perguntei: tem algum risco de cair lá embaixo? E o próprio guia respondeu – e parecia se orgulhar disso – “sim, é bem perigoso”! Eu tenho pena é das pessoas que se metem nesses perrengues sem colher informações antes, confiando que a segurança dos turistas é uma preocupação do governo – porque definitivamente não é! Quanto à criminalidade, não vi nada que me chamasse a atenção, mas fui muito recomendado para não andar sozinho à noite.




           5 – FEIÚRA DA CIDADE – Apesar de Victoria Falls ser uma cidade especificamente projetada para o turismo, não existe lá nenhum atrativo além do Parque Nacional. Não existe um centrinho bem cuidado com lojas e restaurantes, e sim ruas bem estranhas e muito pouco convidativas. É claro que tem lugares para comprar e comer, como em qualquer outra cidade – o que quero dizer é que, para um lugar que cobra preços exorbitantes e tem um imenso lucro com o turismo, Victoria Falls não faz nenhum investimento com a estética da cidade. Talvez isso aconteça porque muita gente se hospeda em hotéis de luxo, e assim não precisam sair para fazer nada na rua. O fato é que a cidade é bem feia, e estar no meio da África não é desculpa para isso, pois conheço outras cidades africanas, menos turísticas, que souberam aproveitar muito melhor o espaço que têm.

 

Como vocês podem ver, o que meu orçamento permitiu fazer foi somente DUAS atividades em Victoria Falls: o rafting super emocionante e a visita de meia hora ao Parque Nacional, para tirar fotos da neblina. Aliás, em função do vapor úmido, meu celular inclusive estragou e nunca mais voltou a funcionar – e isso que ele estava bem guardado dentro da mochila! 




Meu roteiro ficou assim então:


Dia 1 – Passeio de meia hora ao Parque Nacional e o resto do dia caminhando pela cidade sem fazer nada;


Dia 2 – Cruzei a ponte do Rio Zambeze, que liga os dois países (como eu não queria pagar o visto da Zâmbia, pude andar no máximo alguns metros após a entrada no país, só para acrescentar mais um na minha lista!); Fui ao Bridge Museum (quem me conhece já sabe que eu estava com falta de opções, porque museu definitivamente não é o meu lugar – mas como esse era de graça, eu entrei para ver); Passei a tarde na lan house da cidade, com a internet indo e vindo a cada minuto;


Dia 3 – Rafting;


Dia 4 – Passei o dia conhecendo e visitando 2 hoteis de luxo: o Victoria Falls Hotel e o Elephant Hills Resort (é não ter mais o que fazer!!!). No Elephant Hills eu ainda pensei que meu dia poderia ser salvo, pois estavam oferecendo aulas de golfe lá, e eu pensei: por que não? Nunca joguei isso, mas com certeza é mais interessante do que fazer turismo em piscinas e corredores de hotel. Quando eu vi o preço, porém – US$ 40 a hora de aula – resolvi que ainda era melhor conhecer a recepção do hotel, porque pelo menos eu não estaria rasgando dinheiro;


Dia 5 – Meu vôo saía à tarde (graças a Deus)! Passei meu último dia de viagem na biblioteca pública de Victoria Falls, que incrivelmente não tem um único ventilador, lendo um livro de contos da Agatha Christie. Acho que esse foi um dos melhores dias da viagem!







 Agora, se mesmo depois de tudo isso, você AINDA quer ir a Victoria Falls (acho que eu mesmo ia querer, porque é melhor viajar e me arrepender do que ficar sempre na dúvida e na vontade), aqui vão algumas dicas úteis:


- Não existem voos diretos do Brasil para lá, então você precisa viajar para outra cidade africana (a mais comum é Johannesburgo), e de lá voar para Victoria Falls ou Livingstone.


- Todo o meu relato é sobre o lado do Zimbábue das cataratas – sobre a parte da Zâmbia eu só sei o que me contaram e o que está na internet! Pelo que eu vi os preços e atividades são mais ou menos os mesmos, e o parque das cataratas é BEM menor (ou seja, deve ser minúsculo).


- Não existe melhor época para visitar: na estação chuvosa (dezembro a março) o volume da água é maior, e portanto a névoa também; na estação seca (abril a novembro) tem menos água nas cataratas, e elas não estão muito bonitas, mas provavelmente você poderá enxergar melhor. Eu fui entre janeiro e fevereiro.


- A moeda local é o dólar americano, e em muitos locais não aceitam pagamento com cartão de crédito.


- A água da cidade costuma ser potável.


- Todos lá falam inglês.


- E o mais importante: existe malária em Victoria Falls, portanto consulte um médico antes de viajar e faça a profilaxia da doença!

12 comentários:

  1. Muito bacana o relato honesto. Eu achei o lugar bem legal, mas só de olhar no Maps já percebi que fica no meio do nada e a cidade é pequena. Ou seja, bem difícil ficar mais que 1 ou 2 dias, a não ser que esteja no hotel 5 estrelas para relaxar. Mas o preço do hotel é muito salgado.

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  2. Pois é Leonardo, meu erro foi ter ficado tanto tempo e ter criado tanta expectativa... que bom que tu gostou!

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  3. muito legal o relato, quase comprei uma passagem pela tam para ir, no entanto,depois de ler a sua experiência desisti. Até porque teria que passar 14 dias la´, IMAGINA A TORTURA....

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  4. Oi, desculpe a demora para responder, eu estava viajando! Que bom que o post foi útil :D
    com certeza 14 dias seria uma tortura inesquecível, o ideal seria comprar só ida pra VicFalls e volta de outro lugar da África! um abraço

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  5. Gostei do relato, porque estava um pouco preocupara por ter reservado pouco tempo pra Victoria Falls e Livingstone (sim, vou ir no parque pelos 2 lados e pagar os 2 vistos)... Percebi que vai dar tempo de fazer as coisas que quero sem correria, mas estou preparando o bolso pra pagar as atividades tão caras...

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  6. Estava procurando por dicas porque vou a um casamento em Durban e estava pensando em ir a Victoria Falls. Depois de ler o seu relato, desisti completamente. Muito obrigada pelas dicas.....Vivian

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    1. Pois é, ir de Durban até lá só pra conhecer as cataratas não vale a pena mesmo! Eu recomendo ir para Cape Town ou fazer a Garden Route, no sul da africa do sul ;)

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  7. Thank you mano. Eu sou da opiniao que o melhor seria ver com os proprios olhos...

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  8. Adorei ler o seu desabafo. Viajarei no próximo mês para lá. Obrigada!

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