segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Lapônia em setembro - dicas sobre aurora boreal no outono


Acabamos de voltar de uma longa viagem de 113 dias pelo norte e leste da Europa, e uma das regiões que mais gostamos de visitar foi a Lapônia, no outono (entre 31/8 e 30/9). 

Eu tinha estado em Rovaniemi (maior cidade da Lapônia finlandesa) em 2008, mas foi uma viagem rápida e eu sempre quis muito voltar para aquela região. Então, este ano, acabamos passando um mês por lá, acima do Círculo Polar Ártico, entre a Finlândia, a Noruega e a Rússia (sim, embora muita gente ache que a Lapônia fica só na Finlândia, ela também compreende esses outros países, mais a Suécia). 

Chegamos à Lapônia por Rovaniemi (vindos por terra de Umea, na Suécia), subimos pelos parques nacionais até o Nordkapp, na Noruega (ponto mais ao norte da Europa continental) e descemos pela Península de Kola, na Rússia.

Mapa do nosso roteiro (clique aqui para ver o mapa com mais detalhes):






A Lapônia nas outras estações

Para uma viagem por essa região, o mais fundamental preparo é a escolha minuciosa da época da viagem. Existem 4 Lapônias muito diferentes em cada estação do ano, então você precisa saber bem o que está procurando na sua viagem. Em resumo:

Lapônia no inverno (out/nov/dez/jan/fev/mar): frio absurdo, muita neve, quase 24h de escuridão, chance quase certa de ver aurora boreal.

Lapônia na primavera (abr/mai): boa época para viajar, ainda há neve no chão mas o clima já é mais ameno, chances moderadas de ver aurora boreal

Lapônia no verão (jun/jul/ago): calor na maior parte do tempo, MUITOS mosquitos, quase 24h de sol, tudo fica verde, impossível ver aurora boreal; Na minha opinião, é a pior época do ano para viajar para lá.



Lapônia no outono (setembro)

É a estação mais curta do ano. O auge, quando tudo fica amarelo, em geral acontece de 1 a 15 de setembro no norte da Lapônia, e de 10 a 25 no sul. Portanto, se você vai fazer um roteiro longo e quer tirar o máximo proveito da paisagem, recomendo que faça um trajeto norte-sul. No extremo norte (acima de Karasjok), onde quase não existem árvores, as datas não fazem muita diferença. 

Nós optamos por viajar no outono porque é a única época do ano em que se pode aproveitar 100% do tempo - tanto com passeios ao longo do dia (trilhas na natureza, pois não há neve) quanto à noite (aurora boreal). Só não sobra tempo pra dormir!


Aurora Boreal na Lapônia 

Antes de viajar, lemos na internet uma infinidade de relatos sobre o assunto, pesquisando bem se o outono seria de fato uma boa época para ver o fenômeno. O problema é que cada um diz uma coisa, defende uma opinião e sempre há polêmicas em grupos de discussão - cada um (viajantes, moradores, fotógrafos, amadores...) tem o seu mês favorito para ver a aurora. Uns acham o outono a melhor época, outros não recomendam. Por isso, embarcamos cientes de que tudo era possível e de que descobriríamos, por conta própria, se afinal setembro é ou não é um bom momento do ano para ver as luzes.

O certo é que a aurora só acontece quando 3 requisitos são cumpridos: escuridão completa, céu aberto (tempo bom) e atividade da aurora

A atividade da aurora é imprevisível e pode acontecer a qualquer momento do ano em igual proporção. Não depende de nada a não ser da sua sorte.

O céu aberto (tempo bom, sem nuvens) também não tem muita regra - porém, de forma geral, está mais presente no inverno. Quando o tempo está bom, você precisa se afastar de qualquer poluição - se estiver em uma cidade (ex.: Rovaniemi, Tromso, Murmansk...), o ideal é pegar o carro e dirigir alguns km para longe do centro urbano. Se você está em um vilarejo (nós nos hospedamos quase todo o tempo em vilarejos), não precisa fazer nenhum esforço - basta olhar para o céu de onde você está.

A escuridão completa só não acontece no verão - a diferença é que, no inverno, você tem mais horas de escuridão do que no outono ou na primavera, aumentando suas chances de unir esse requisito aos outros 2 acima. Para buscar o breu, vale a mesma dica sobre o céu aberto - dirigir alguns km até uma área erma, se você estiver em uma cidade maior.


A nossa experiência

Nós passamos 1 mês acima do círculo polar (ou bem perto dele), entre 31/8 e 30/9, e vimos a aurora boreal em apenas 5 dias (3, 6, 8, 14 e 15/9). E olha que fomos persistentes, não tinha um dia em que não ficássemos à noite olhando para o céu à espera das luzes. Dessas 5 vezes, apenas em uma delas a atividade estava um pouco mais forte - nas outras 4 dava para ver a luz verde, mas bem mais fraca do que eu estava imaginando.

Fotos da aurora mais forte que vimos, dia 14/9 em Karasjok, Noruega:





Vimos poucas auroras porque pegamos céu nublado na grande maioria das noites na Lapônia. Por outro lado, nossa sorte foi bem melhor com o tempo durante o dia - contamos com vários dias de sol ao longo do roteiro, alguns nublados, 1 dia com neve e apenas 1 dia de chuva, em 1 mês. Por isso, embora a aurora boreal tenha sido realmente uma decepção, os passeios diurnos superaram bastante as nossas expectativas, principalmente graças ao tempo bom. E no fim achei que foi bem melhor assim - jamais trocaria as paisagens abaixo por dias de chuva e noites com aurora boreal:


Ivalo - Finlândia

Inari - Finlândia

Karigasniemi - Finlândia

Karasjok - Noruega



Conclusão - outono e aurora boreal

Se o objetivo central da sua viagem é ver a aurora, e você tem menos de 1 semana na Lapônia, recomendo veementemente que viaje no inverno. Na minha opinião, essa é a melhor estação do ano para ver o fenômeno.

Claro que, se você tem bem mais tempo, como nós, dá para ir no outono tranquilamente - uma hora, querendo ou não, você vai acabar esbarrando na aurora, seja forte ou fraca.

Mas, se você é como eu, que sonha em presenciar uma aurora espetacular mas também (e principalmente) não abre mão de fazer bons passeios durante o dia, o outono é a época perfeita para uma viagem à Lapônia. Recomendo que você viaje tendo em mente o objetivo de fazer as trilhas, conhecer os parques nacionais, ver animais selvagens na natureza (vimos lebre-ártica, lemingues e raposa, além de uma infinidade de renas, pássaros e esquilos), passear pelos ambientes de taiga e tundra, conhecer o povo Sami, admirar o amarelo das árvores e, principalmente, desfrutar do privilégio de estar em um dos lugares mais inóspitos e extremos do mundo, que o ser humano ainda mudou muito pouco. E, se a aurora resolver dar as caras, é lucro!


Vale a pena contratar um tour para ver a aurora?

Essa dica não tem a ver especificamente com o outono, mas achei importante colocar aqui também.

Depende do seu estilo de viagem. 

Se você está viajando sem carro, e hospedado em uma cidade grande, melhor contratar o passeio - já que você terá que sair da cidade para ver a aurora, e fazer isso de táxi provavelmente vai sair mais caro que o tour. Se você não tem câmera, ou se quer uma foto profissional de lembrança, também pode ser uma boa ideia. 

Nós sempre viajamos com baixo orçamento, tempo de sobra e primamos pelo máximo possível de independência em tudo - portanto, contratar qualquer tipo de tour é sempre a última opção que passa pela nossa cabeça. Para uma viagem como a que fizemos, com hospedagem em vilarejos, onde víamos a aurora do quintal de casa, é muito desnecessário contratar um tour. Claro que as fotos que tiramos ficaram péssimas - seria legal ter fotos profissionais para ilustrar este texto, mas compensou pela economia que fizemos. O que tinha para ver, nós vimos - só não quisemos pagar pelas fotos. E, sem querer bancar o chato pessimista, tenha a certeza de que essas fotos que você vê por aí são entupidas de photoshop ou de cores que não são visíveis a olho nu - por incrível que pareça, as lentes das câmeras enxergam um espetáculo muito mais brilhante do que aquilo que os nossos olhos vêem.


E, no final das contas, o que importa é que as 5 auroras que vimos ainda estão nas nossas memórias!

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Leia também:

Roteiro de 113 dias - norte e leste da Europa

Roteiro de 17 dias pela Lapônia Finlandesa

Dicas sobre aurora boreal no outono

Dicas sobre a região do Nordkapp, Noruega


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