sábado, 23 de abril de 2016

Como visitar o Cotopaxi por conta própria e pagando barato

Em termos de vulcão, o Equador é um país que não deixa a desejar! Os 2 principais, mais visitados e por isso com melhor infraestrutura são o Cotopaxi e o Chimborazo. Enquanto o Chimborazo é mais alto e imponente, o Parque Nacional onde fica o vulcão Cotopaxi, assunto deste post, é famoso por sua extrema beleza, sendo provavelmente o maior cartão-postal do Equador continental, para onde milhares de turistas se deslocam todos os meses do ano.


Foto clássica do Cotopaxi num dia de sol - Fonte: www.ecuadorextreme.com.ec


Todos sabem que o Cotopaxi, assim como o Chimborazo, é um prato cheio para os turistas, com cenários arrebatadores e muitas possibilidades para tirar fotos. Também não é mistério nenhum que diversas agências em Quito e outras cidades organizam tours diários para o vulcão - e cobram caríssimo por isso (mínimo USD 50 por pessoa). Mas, como nós estávamos com um orçamento super apertado, pesquisamos muito uma forma mais barata de conhecer o Cotopaxi, e acabamos nos deparando com inúmeras dificuldades para compreender a logística desse passeio, quando feito por conta. Depois de quebrar a cabeça enfrentando a escassez de material online sobre o Parque, e ainda com muitas dúvidas, ficamos sabendo que o vulcão havia sido fechado para visitação, devido a um crescimento da sua atividade vulcânica.

Tiramos então o Cotopaxi do roteiro - mas eis que, menos de uma semana antes de chegarmos ao Equador, a atividade vulcânica diminuiu e o Parque voltou a abrir (com exceção de algumas poucas estradas, mais próximas à cratera). Sem praticamente nenhuma recomendação e informações totalmente desencontradas (cada um falava uma coisa sobre o parque), decidimos encarar essa aventura e colocamos o Cotopaxi de novo no nosso roteiro. O resultado foi que deu tudo certo (não passamos nenhum perrengue e conseguimos visitar o Parque pagando muito menos de USD 50 por pessoa) e ao mesmo tempo tudo errado (não conseguimos ver quase nada por causa da neblina).

Pelo menos agora sabemos tudo sobre o lugar e podemos dar as melhores dicas e informações bem pontuais para quem quer conhecer o Cotopaxi de forma muito fácil e sem ter que pagar uma fortuna: 



Como chegar?

A entrada do Parque Nacional Cotopaxi fica na beira da Rodovia Panamericana, entre as cidades de Quito (50km) e Latacunga (35km). Se você estiver em Quito, basta pegar qualquer ônibus (no terminal sul - Quitumbe) que vá em direção a Latacunga, e se estiver em Latacunga faça o contrário. Em ambos os casos avise ao motorista e a todos os passageiros ao seu redor que você quer descer na entrada do Cotopaxi, para não ter erro de passar do ponto. O valor da passagem do ônibus é cobrado proporcionalmente ao trajeto (de Latacunga, nos custou USD 1,50 por pessoa). Os ônibus que fazem esse percurso são muito frequentes a qualquer hora do dia.



Como fazer a visita?

O Parque Nacional é muito extenso, e a visita só pode ser feita de carro. Atualmente, o governo exige que estrangeiros visitem o Cotopaxi acompanhados de um guia local, o que claramente visa apenas ao enriquecimento do povo, pois o parque tem uma estrada única, muito bem asfaltada, e não oferece risco algum de nada (a não ser de erupção, e vamos combinar que se isso acontecer o guia vai ser o primeiro a sair correndo!). 

Ou seja: mesmo se você tiver o seu veículo próprio, precisa entrar em contato com algum guia - é possível encontrar o telefone de alguns procurando no google (saiba mais nos próximos itens). 

Se você não estiver com um carro (como foi o nosso caso), basta contratar na hora um dos muitos guias autônomos motorizados com caminhonetes, que ficam aguardando na entrada do parque, bem em frente a onde você desembarca do ônibus. 



Quanto tempo dura o passeio?

Você pode acertar com o guia a duração do tour (tudo no Equador é negociável), mas o padrão é cerca de 3 a 4h. Quando nós estivemos lá (dez/15), algumas estradas estavam fechadas - se o acesso ao parque estiver 100% liberado, a visita deve durar um pouco mais.

 

Quanto custa?

O Parque não cobra entrada, então você só precisa pagar o preço da excursão guiada. Como nós não sabíamos se na entrada do parque haveria guias (cada pessoa dizia uma coisa), encontramos num site o contato do guia Milton e ligamos para ele no dia anterior, para contratar o passeio. Como ele não tinha transporte próprio também tivemos que pagar por um motorista, que ele mesmo providenciou. Combinamos de nos encontrar já no Parque (se ele fosse nos buscar em Latacunga, seria muito mais caro). 

O preço total do passeio de cerca de 3h30 foi USD 35 para o casal. Nos arrependemos de ter contratado o tour na véspera, pois os guias-motoristas que encontramos na entrada do Cotopaxi cobravam de USD 20 a 30 (não importando o número de passageiros, até 4). Não esqueça de sempre barganhar muito!

Tenho quase certeza de que há muitos guias na entrada do parque todos os dias, faça chuva ou faça sol, mas, se você não quiser arriscar de jeito nenhum, ligue para o Milton Viracocha - telefone 0982661760. Ele foi um ótimo guia!



Como é o tour?

Em um dia de sol deve ser um espetáculo. Infelizmente, nós tivemos muito azar e acabamos aproveitando muito pouco o passeio devido à espessa neblina que cobriu a montanha e todo o cenário ao redor ao longo de todo o percurso. 

O tour passa pelo centro interpretativo do parque, por um pequeno jardim botânico, por um cânion (!!!) e por estradas muito bonitas até chegar ao ponto alto (literalmente) - uma laguna bem de frente para a montanha. É possível fazer uma trilha fácil e plana ao redor dessa laguna (demora no máximo 1h, parando o tempo todo para tirar fotos). Depois da laguna, seguimos um pouco mais até ficarmos bem próximos do vulcão, onde iniciava o trecho interditado da estrada. 


A trilha ao redor da laguna

O Cotopáxi atrás das nuvens

Faz frio lá em cima - pegamos uns 10°C

Um dos poucos momentos em que foi possível ver alguma coisa

O trecho que estava interrompido

Conseguimos ver um pedaço do Cotopaxi


Qual o melhor momento do dia para fazer o tour?

Dizem que o melhor período do dia para visitar o Cotopáxi é pela manhã, pois tem mais chance de o céu estar aberto. Mas nós começamos o tour às 9h e terminamos às 12h30, e não vimos nada! Pelo menos esse foi o único dia em quase 2 meses de viagem que deixamos de aproveitar por causa do mau tempo.




Como organizar o seu roteiro para visitar o Cotopaxi?

Você pode usar Quito ou Latacunga como base e fazer um bate-volta ao Cotopaxi - dá tempo tranquilamente para ir e voltar com calma.

Mas, na minha opinião, se você estiver fazendo uma viagem por todo o Equador e não estiver carregando um absurdo de bagagem, o melhor jeito de organizar sua visita ao Cotopaxi é: durma em Quito uma noite, e no dia seguinte bem cedo pegue o ônibus até a entrada do Parque, levando consigo todas as suas coisas. Faça a visita com as malas no carro do guia e, depois, pegue um ônibus para ir dormir em Latacunga. Ou, claro, você pode fazer o caminho inverso. Assim você economiza tempo nos deslocamentos e dinheiro nas passagens de ônibus.

Dormir nas redondezas do Cotopaxi é desnecessário, pois você não vai usar o dia inteiro na visita ao parque. Além disso, a hospedagem nos vilarejos mais próximos é extremamente limitada, com difícil acesso de ônibus e muito mais cara do que em Quito ou Latacunga.



 Como saber se o Parque estará aberto?

Controle por esse link: Instituto Geofísico



 




Leia também os outros posts sobre o Equador e a América do Sul:

Galápagos - passeios gratuitos
Galápagos - passeios pagos
 



















  

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Baños de Água Santa - Equador




Baños de Água Santa, ou simplesmente Baños, é conhecida por ser a "capital equatoriana da aventura", destino preferido dos jovens no país. Trata-se de uma daquelas cidades pequenas que deixaram de ser cidades para se transformar em verdadeiros parques temáticos, com ruas tomadas de agências de turismo, hotéis, restaurantes e, claro, turistas!

No roteiro inicial que eu fiz pelo Equador, 6 meses antes da viagem, Baños não foi contemplada - vi muitas fotos, li muito sobre a cidade e decidi que não tínhamos necessidade de conhecê-la, por não apresentar nada de extraordinário. A nossa ideia era passar 2 dias em Cuenca, cidade mais histórica e mais distante, também próxima a um parque onde se podia avistar diversos animais andinos. Conforme o tempo foi passando, fui lendo mais sobre Baños e me surpreendeu muito o fascínio que essa cidade exerce sobre os turistas, especialmente americanos e europeus. Todos querem ir para Baños, tem gente que passa mais de uma semana por lá, tem muitos que trocam hospedagem por trabalho em pousadas, tem quem alugue casas para passar temporadas e, acredite, tem pessoas que largam tudo e vão morar nessa cidade. Decidido a descobrir por que Baños é tão famosa, amada e procurada (afinal alguns lugares de fato são subestimados pelas fotos), resolvi que tínhamos que dar um jeito de ir até lá - e Cuenca acabou ficando para a próxima viagem.

Passamos 2 dias em Baños, entre 23 e 25 de dezembro/15, bem na época do fervo. E apenas nesse curto período, na nossa pousada, vimos todos esses tipos de pessoas que eu mencionei: 2 holandesas estavam passando 10 dias em Baños, gente de diversas nacionalidades estava trabalhando na pousada em troca de hospedagem e uma russa alugou um quarto para passar uma temporada com seu filho, um bebê. Ainda encontramos, na cidade, um holandês que se aposentou e deixou a família e a casa na Holanda para morar - sim - em Baños!

Para tirarmos a nossa própria conclusão sobre esse improvável polo turístico, nesses 2 dias fizemos os 3 principais passeios que a cidade oferece:



1. Ruta de las Cascadas

É um caminho em linha reta, de 30km (só ida) que passa por dezenas de bonitas cachoeiras. Existem 2 formas de conhecê-las: 

- por conta, alugando uma bicicleta
- ou com uma excursão que dura 4h, em chiva - uma espécie de pequeno ônibus aberto.

Como nós sempre procuramos economizar em tudo, fazemos os passeios por conta sempre que possível - por isso alugamos bicicletas, na nossa pousada mesmo, por USD 5 cada, o dia inteiro. E foi o nosso maior arrependimento de toda a viagem!

A estrada da Ruta de las Cascadas é horrível para bicicletas - é estreita, não há ciclovia, acostamento só às vezes, valetas fundas nos cantos e os carros passam em alta velocidade dos 2 lados. Nós andamos menos de 2km e voltamos com o rabo entre as pernas - se você não é ciclista profissional, não vá de bicicleta!

Só por curiosidade, perguntamos os preços da excursão em chiva, e para a nossa surpresa o valor era apenas USD 4 por pessoa, menos que o aluguel da bicicleta! Ou seja, não faz o menor sentido se estressar e se arriscar pedalando se você pode conhecer os mesmos lugares com muito mais conforto, rapidez e ainda pagando mais barato! 

Durante o tour em chiva que nós fizemos, visitamos 7 cascatas e tivemos opção de praticar esportes radicais - como canopy (uma espécie de tirolesa) e uma travessia por cima de uma cachoeira em uma pequena plataforma móvel. Não fizemos nenhuma das atividades pois são pagas à parte.











Triste com a indiada na véspera de Natal




2. Casa del Árbol


Também chamado de Columpio (balanço, em espanhol) del Fin del Mundo, esse é o maior cartão-postal de Baños. Trata-se de um balanço sustentado por uma casa na árvore, à beira de um precipício, com a vista do vulcão Tungurahua. Na verdade não tem nada de mais, nem a paisagem nem a estrutura, mas é uma combinação tão exótica e inesperada que acabou se tornando um highlight equatoriano.  

Fica dentro de uma propriedade privada, e o custo de entrada é USD 1 por pessoa. Perto do balanço há um bar/restaurante e também uma tirolesa gratuita (não recomendo a tirolesa, quase perdi meu braço fazendo isso, com o puxão final da corda).

Chega-se à Casa del Árbol facilmente de ônibus, partindo do centro de Baños - há 4 saídas diárias, 2 de manhã e 2 à tarde, com tempo de permanência de 1h30 na Casa (é suficiente). Você também pode ir caminhando desde Baños, mas eu não recomendo - a subida é enorme! 

Não esqueça de levar um casaco grosso, pois lá em cima faz MUITO frio! Nós não sabíamos disso e quase congelamos de regata numa temperatura de menos de 10ºC!










 
Eu tentando o suicídio na tirolesa - até hoje estou com a cicatriz no braço!



3. Termas vulcânicas

Para nós, essa foi a melhor parte de Baños, cidade-referência em águas termais, que vêm encanadas direto do interior do vulcão para as piscinas. Apesar de terem uma cor feia (um marrom-amarelado), segundo os equatorianos essas águas têm propriedades terapêuticas, e curam qualquer doença! Verdade ou mito, uma coisa é certa: não há nada melhor para relaxar, especialmente à noite, depois de um longo dia de passeios.

Existem 4 parques de água vulcânica, sendo que 2 abrem apenas nos finais de semana. Nós visitamos os 2 que estavam abertos durante a semana - El Salado e Termas de la Virgen

No primeiro dia fomos a El Salado, que fica aberto o dia inteiro e cuja entrada custa USD 3 se você entrar antes das 18h e USD 4 após esse horário (você pode sair a hora que quiser). Fica um pouco afastado da cidade, mas dá para chegar caminhando (nós levamos uns 30min do centro, indo rápido). 

El Salado é a estação termal frequentada pelos próprios moradores de Baños e dos arredores - especialmente aposentados ou pessoas com problemas de saúde. É um lugar muito tranquilo, silencioso, com espaço de sobra, e os equatorianos mais velhos adoram puxar assunto - conversamos bastante com diversas pessoas. A temperatura da piscina mais quente é pouco mais de 40ºC - achei o ideal para relaxar bem.

Nós chegamos em El Salado no final da tarde e ficamos mais de 2h lá, até anoitecer, de tanto que gostamos!



As piscinas ficam ao ar livre, junto ao vulcão e a um pequeno córrego

A piscina com água verde é gelada, para quem gosta de choque térmico


Passamos a noite de Natal no outro parque, Termas de la Virgen - esse no coração de Baños, bem próximo à igreja central. Fica fechado das 16h às 18h - se você for durante o dia, o ingresso é USD 2, e se for durante a noite (como nós fizemos e eu recomendo) é USD 3. Aqui a proposta é justamente o contrário de El Salado: praticamente não há moradores locais, e as piscinas são inundadas de turistas - cada cm² de água é disputado. Existem apenas 2 piscinas quentes - uma com menos de 40ºC (achei que podia ser mais quente) e outra com absurdos 54ºC! Nessa de 54 nós não conseguimos nem colocar o pé pra dentro, mas muita gente nadava feliz lá dentro (quem são essas pessoas, onde vivem, do que se alimentam?).


A piscina de menos de 40ºC


A cachoeira, atrás da piscina, iluminada na noite de Natal


A piscina de 54ºC


Em ambos os parques, há armários onde você pode deixar suas coisas (gratuitamente) enquanto está na piscina. É obrigatório o uso de touca de banho - se você não tem uma, pode alugar por USD 1.

Se você ficar apenas 1 noite em Baños, recomendamos que vá somente a El Salado - para, além de relaxar melhor, ter uma ideia do que realmente são as estações termais de água vulcânica. Agora se você está procurando mais uma atração turística do que uma experiência, ou se a sua ideia é mais tirar fotos com a cachoeira iluminada do que relaxar, procure as Termas de la Virgen. 


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Depois de 2 dias em Baños de Água Santa, concluímos que é uma cidade com potencial turístico, que tem atrações variadas e agrada ao público de todas as idades. Mas não foi dessa vez que desvendamos a razão de ser TÃO famosa, pois nenhuma das paisagens que vimos foi daquelas de tirar o fôlego (como em outros lugares do Equador - o Chimborazo, por exemplo).

O mesmo acontece com Montañita, pequeno e pobre balneário do Equador que também é uma "meca" para os jovens, apesar de parecer a coisa mais sem graça do mundo, pelas fotos. Vai entender!


Uma última dica - onde NÃO se hospedar em Baños:

Nós ficamos no hostel Backpackers Balcones (cuidado: há um hostel que se chama apenas "Backpackers" e outro "Backpackers Balcones"). Não foi uma boa experiência. É muito afastado do centro da cidade e cheio de cachorros de rua em volta, o que dificulta a caminhada de 20min, em passo rápido, até a zona central. A cozinha compartilhada não é das mais limpas e tem sempre muita gente usando. O dono do hostel, Manoel, não pode ser mais antipático - apático seria a palavra correta, ele nunca fala nada, não faz nada pra ajudar, não dá informação nenhuma e também nunca está por lá. No último dia, deixamos o quarto pela manhã e pedimos para deixar a bagagem na "recepção" enquanto fazíamos o passeio durante o dia. Quando voltamos, às 3h da tarde, para pegar as malas, a sala da recepção estava trancada. Depois de muita espera conseguimos um telefone emprestado e ligamos para o Manoel, que chegou lá depois de 15min, com a mesma cara de sempre, sem pedir desculpas nem nada. Isso fora o fato de ele ter alugado bicicletas para nós percorrermos a Ruta de las Cascadas, o que eu considero de extrema má-fé, uma vez que é impossível fazer esse trajeto de bicicleta.

O único ponto positivo foi o preço, mas até isso foi motivo de briga. Eu fiz a reserva na internet por USD 7 o quarto duplo (todos os hostels lá são baratos, não só esse), e na hora de pagar o dono queria me cobrar USD 10, justificando que o preço de USD 7 tinha sido um engano do site! Mas no fim obviamente acabamos pagando só os 7. 

Enfim, escolha qualquer outro lugar para ficar em Baños, menos o Backpackers Balcones!




Catedral de Baños