Em janeiro deste ano, ficamos uma semana no Peru - uma viagem que surpreendeu a nós mesmos, que não tínhamos ideia de conhecer o país tão cedo. Acontece que planejamos uma viagem para a Colômbia, e o roteiro esticou para o Equador, para Galápagos e acabamos chegando até a Bolívia! Nesse caminho, a consequência foi atravessar o Peru de norte a sul, oeste a leste, percorrendo quase 2.800 km - sim, o Peru é um país enorme, um dos maiores do mundo!
Só que, como já chegamos ao Peru depois de 40 dias de viagem, tínhamos um pouco de pressa e procuramos fazer um roteiro estilo correria, o que é bem atípico para mim, que sou fã número 1 de slow travel. Nesse ligeirão, infelizmente acabamos cortando alguns lugares que eu gostaria muito de conhecer. O principal deles ninguém nunca ouviu falar: é a região de Huaraz, cheia de montanhas, neve, trilhas e lagunas de água verde - e que demanda no mínimo uns 5 dias para ser bem aproveitada. Outro lugar incrível que ficou de fora foi o Valle del Colca, perto de Arequipa - optamos por excluí-lo do roteiro por 2 razões: primeiro, porque a época não era a mais adequada para visitar o cânion, e segundo porque também precisaríamos de mais uns 3 dias de viagem. Mas a grande pergunta de TODOS os viajantes por quem cruzamos, e também de quem ficou no Brasil, foi: não vão para Machu Picchu??
Pois é, o grande cartão-postal peruano foi tirado sem dó nem piedade do nosso itinerário, e por incrível que pareça não foi uma decisão difícil de ser tomada. Logo quando eu estava elaborando o roteiro, em julho/15, já torci o nariz para a grande distância que teria de ser percorrida para chegarmos até Cusco, cidade-base para explorar as ruínas incas. Depois, descobri que o trem que se pega para chegar lá é caríssimo. Li inúmeros relatos de viajantes, e todos falaram que tudo é muito caro em Cusco e o ideal é ficar no mínimo uma semana. Por fim, descobri que janeiro é uma péssima época para se visitar Machu Picchu: a chuva e a neblina são quase uma certeza nesse período. Com toda essa combinação de fatores, ao contrário da dor que senti ao cortar Huaraz e o Colca, não tive dúvida nenhuma em deixar Machu Picchu para a próxima - afinal, não estamos tão longe assim e promoções de passagens para Cusco aparecem a toda hora!
E, mesmo excluindo todos esses destinos do nosso roteiro, aproveitamos ao máximo a nossa rápida passagem pelo Peru!
Voamos de Galápagos para Guayaquil (Equador) dia 09/01 às 11h, do aeroporto ganhamos uma carona até a rodoviária e de lá já pegamos um ônibus para Tumbes (USD 20) - a primeira cidade peruana, passando a fronteira. Tudo isso com uma rapidez surpreendente. A viagem até Tumbes foi demorada e cansativa, e chegamos lá por volta das 10h da noite. A ideia era já pegar um ônibus noturno para Lima, mas não havia mais ônibus àquele horário. Não há em Tumbes um terminal rodoviário, e sim várias agências em locais diferentes de onde partem os ônibus (que ideia inteligente e facilitadora, não?).
Tumbes foi a pior cidade que já conhecemos em nossas vidas. Calor de 40ºC em plena madrugada, aspecto perigosíssimo das ruas, nada para comprar para comer e tudo muito sujo, feio, abandonado. Paramos em um hotel terrível, mal conseguimos dormir de tanto calor e o nosso único desejo era sair daquela cidade o mais rápido possível. No dia seguinte, de manhã, conseguimos comprar nossa passagem para Lima - 100 soles por pessoa (cerca de R$ 125), um valor caríssimo para o que o transporte oferece.
Ao comprar o seu bilhete, tanto no Peru como na Bolívia, o vendedor da agência lhe dirá que o ônibus tem ar condicionado, banheiro, bancos reclináveis, etc. Via de regra, tudo vai ser mentira - foi essa a lição que tiramos nas 10 viagens de ônibus que fizemos por esses países e nas conversas que tivemos com o povo e com os outros turistas. Uma dica para evitar tanto perrengue é comprar passagem com a Cruz del Sur, companhia com nível mais elevado - e passagens bem mais caras, às vezes o dobro ou triplo do preço das demais agências, mas vale a pena conferir.
Saímos de Tumbes às 10h30 do dia 10/01 e chegamos em Lima às 7h30 do dia 11, totalizando 21h de viagem. Foi aí que as coisas começaram a melhorar e é aí que entra o nosso roteiro de 1 semana pelo Peru:
Dia 1 - Lima
A capital peruana foi a que nós mais gostamos na viagem. Em comparação com Bogotá, Quito e La Paz, Lima é muito mais bem cuidada e tem mais a oferecer para os turistas. Tenho que confessar que o centro histórico decepcionou um pouco - não achei nada de mais a Plaza Mayor nem as ruas do centro, que são até meio perigosas.
O que vale mesmo em Lima é toda a região moderna da orla, no bairro Miraflores, que merece uma boa caminhada ou pedalada (há ciclovia em quase todo o trajeto). E, pela primeira vez em uma viagem, nossa atração preferida numa cidade foi um shopping center! É que o Larcomar não é apenas um shopping, e sim um ponto de encontro da cidade - um centro comercial a céu aberto, com uma vista privilegiada para o Pacífico. Não deixe de estar lá no momento do pôr-do-sol, quando todos os turistas pegam suas câmeras e correm para o terraço do shopping para fotografar o céu.
Grandes penhascos à beira-mar |
Banho de mar em Lima: esteja preparado para as ondas gigantes |
O shopping Larcomar |
Fim de tarde no calçadão em Miraflores |
Dia 2 - Huacachina
Nosso
segundo dia no Peru foi o melhor. A ideia inicial era pegar um ônibus
de Lima para Paracas, uma reserva natural com falésias e praias de areia
vermelha. Não sei por qual motivo, os ônibus para Paracas estavam muito caros, muito mais caros do que se fôssemos direto para Ica, uma viagem mais longa e que seria nossa próxima parada. Sendo assim, não nos restou alternativa senão cortar Paracas e seguir viagem.
Pegamos cedo um ônibus Lima - Ica (4h
de viagem, tem ônibus a toda hora e com várias empresas). A grande
atração de Ica, e que foi o nosso maior objetivo no Peru, é uma lagoa verde no
meio de um deserto - o oásis Huacachina, em torno do qual ergueu-se uma
espécie de vilarejo. É acessível a todos, desde crianças a idosos, porém é
um tanto artificial - cheio de hoteis, lojas e restaurantes em volta. Se
você está procurando algo mais selvagem e menos turístico, não é por
aí.
Em
Ica, no desembarque do ônibus já existem motoristas de táxi esperando
para levar os turistas para o oásis, que fica a 10min da cidade. Nós
dividimos o táxi com 2 suecos e pagamos 2 soles cada um (pouco mais de
R$2). Chegando lá fomos direto para o hostel onde tínhamos uma reserva -
Desert Nights, bem na frente da lagoa. Os suecos que estavam com a
gente também ficaram nesse hostel, mesmo sem ter uma reserva prévia,
pagando o mesmo preço que nós - 20 soles por pessoa. É muito barato,
mas também bem barulhento e os funcionários não são muito prestativos.
O que fazer em Huacachina:
- passeio de jipe pelas dunas (não fizemos pois achamos caro);
- praticar sandboard;
- subir nas dunas mais altas para ver o nascer ou o pôr-do-sol (nós subimos nas 2 ocasiões, mas o tempo estava nublado).
1 dia é suficiente para curtir bem o oásis. Mais que isso, já deve ficar meio tedioso.
Huacachina visto de cima das dunas |
Foto tirada do nosso hostel, na beira da lagoa |
As dunas em volta |
Outra laguna perto de Huacachina |
Dia 3 - Nasca
Saímos de Ica às 9h e chegamos em Nasca pelas 11h30. A estrada atravessa o deserto e é daquelas que obriga a gente a ficar o tempo todo com a câmera grudada na janela:
Para partir de Nasca em direção à próxima cidade da rota dos viajantes, Arequipa (9h distante), o ideal é pegar um ônibus noturno no mesmo dia. Chegue em Nasca e já vá direto ao terminal comprar sua passagem, e deixe suas malas gratuitamente com a empresa de ônibus durante o dia. 1/2 dia é suficiente para conhecer a cidade, cuja única atração são as famosas Linhas de Nasca, supostamente desenhadas no meio do deserto para que pudessem ser vistas do céu.
Existem 2 jeitos de enxergar as linhas: pagando cerca de USD 70 por pessoa para fazer um vôo num mini-avião sobre os desenhos, com guia, ou pagando 2 soles (R$2) para subir em uma torre panorâmica que lhe permite avistar 3 ou 4 desenhos (claro que de uma altura muito menor que a do avião). Nós optamos pela segunda alternativa e acho que fizemos muito certo, pois sinceramente não achamos muita graça nas tais figuras.
Como chegar até as Linhas de Nasca: se você contratar um vôo panorâmico, o transporte até o aeroporto estará incluído. Se escolher a torre, como nós, pode pegar um ônibus no terminal de Nasca (3,50 soles, 30min) e pedir para descer em frente ao "mirador de las líneas". Você paga, sobe na torre, tira suas fotos e pronto - não dura mais que 10min. Para voltar a Nasca, pegue o mesmo ônibus no sentido contrário, ou (como nós fizemos) peça uma carona para turistas que estejam de carro, pois obviamente eles voltarão para Nasca.
Mas atenção: se você chegar a Nasca vindo de Ica, como foi o nosso caso, você passará bem na frente da torre panorâmica, meia hora antes de chegar a Nasca. Se você viaja sem nenhuma mala despachada no bagageiro do ônibus, aproveite e já peça para o motorista parar ali mesmo. Mas se está com mala no bagageiro, não espere que ele vá parar para você: faça como nós e siga até Nasca, para depois voltar e conhecer as linhas.
Linhas de Nasca vistas da torre panorâmica |
Dia 4 - Arequipa
Chegamos em Arequipa pelas 8h da manhã e fomos direto para o nosso hostel, chamado Mango, muito bem localizado e com preço bom (USD 6,50 por pessoa, com café da manhã incluído) - porém o atendimento é péssimo, eu não recomendo!
Arequipa foi a cidade grande que mais gostamos em toda a viagem, pois é completamente diferente das outras. Muito limpa, organizada, bonita, silenciosa, com ruas largas, sem multidões, sem trânsito intenso - enfim, uma surpresa e tanto, pois dá de 10x0 em muitas cidades da Europa. Infelizmente, Arequipa em si não apresenta muitas atrações, e um dia inteiro por lá é bem suficiente (a não ser que você contrate algum passeio extra, como excursão ao vulcão, rafting, cânion do Colca, etc). Nós percorremos bastante o centro, subimos as pontes sobre o rio Chili, visitamos as principais igrejas, e também fomos a um mirante na parte alta da cidade - o Mirador de Yanahuara (uns 20min a pé da Praça Central), onde se tem uma vista muito bonita do vulcão Misti.
Um passeio que todas as agências e hotéis oferecem, como eu já mencionei, é uma excursão ao Cânion do Colca. Existem pacotes de 1 dia, 2 dias e 3 dias. O preço do mais barato e popular entre os turistas (1 dia) é 40 soles + a entrada no Parque Nacional (40 soles para brasileiros), sem refeições incluídas. O tour sai de Arequipa às 3h da manhã (!!) e volta no final da tarde. O ponto alto do Colca é avistar bandos de condores voando, e nos disseram que a melhor época para isso é de março a junho - em janeiro, há chance de ver no máximo uns 2 e parados. Da próxima vez que nós formos ao Peru, pretendemos ir por conta própria até Chivay, a cidade mais próxima do cânion, e ficar lá pelo menos 3 noites, para conhecer bem e aproveitar melhor a estação dos condores.
Plaza de Armas em Arequipa |
Plaza de Armas no final da tarde |
O rio Chili, que corta a cidade - dizem que é bom para rafting |
O vulcão Misti, visto do Mirador de Yanahuara |
Dia 5 - Arequipa - Puno
Primeiro, pensamos em fazer a viagem Arequipa - Puno (mais de 6h de ônibus) durante a noite, para ganhar tempo. Mas depois de ler comentários na internet e ver muitas fotos da estrada, tomamos a sábia decisão de fazer esse trajeto durante o dia. E é isso mesmo, não tenha dúvidas: o caminho entre essas 2 cidades é o que tem de mais bonito no Peru, e fazê-lo durante o dia não é perder tempo, e sim ganhar as fotos mais bonitas da viagem - e isso que tiramos pela janela suja do ônibus, em movimento!
Chegamos à tardinha em Puno, cidade às margens do Lago Titicaca. Ainda deu tempo de conhecer o centro histórico e também de contratar o passeio do dia seguinte - a excursão de barco pelo Titicaca. Diversas agências e hoteis oferecem esse tour, pergunte os preços para várias e barganhe muito, porque nada tem preço fixo. A oferta começou em 50 soles por pessoa, e terminamos fechando em 28 soles, para a excursão de um dia inteiro às ilhas Uros e Taquile.
Dia 6 - Puno: passeio no Lago Titicaca
Existem diferentes tipos de passeio no lago. O mais curto é um passeio de 3h de duração para o conjunto de ilhas Uros - pequenas ilhas flutuantes artificiais com chão de palha, onde moram alguns nativos que vivem da venda de souvenirs para os turistas que ali desembarcam. Outra excursão (a que nós fizemos, das 7h às 17h) compreende não só as ilhas Uros, mas também a ilha Taquile, que fica muito mais longe e é bem maior. Nessa ilha o grupo faz uma caminhada um tanto longa, com muita subida e depois muita descida (tudo isso a quase 4.000m de altitude). Por fim, você também pode contratar um passeio de 2 ou 3 dias de duração, que vai também à ilha Amantani - essa ainda mais distante, onde você pode ter a experiência de dormir com uma família nativa e conhecer mais sobre seus costumes e sua cultura de alimentos para subsistência.
Nossa conclusão sobre o Lago Titicaca: o que vale a pena é escolher a primeira opção, e fazer o passeio apenas para as ilhas Uros, que são bem diferentes e interessantes. A ilha Taquile fica muito longe, e se perde tempo demais indo até lá e depois voltando - sem falar que a ilha não tem absolutamente nenhum atrativo maior, é bem sem graça. Não chegamos a conhecer Amantani, mas pelas fotos parece bem similar à Taquile.
Fotos das ilhas Uros:
Os passeios nesse barco custam 10 soles, mas no desespero eles vendem por 5 |
Dia 7 - Sillustani
No nosso último dia no Peru, fomos conhecer uma atração bem "off the beaten track" (fora do roteiro padrão dos turistas). Trata-se do complexo arqueológico de Sillustani, onde estão diversas ruínas de povos ancestrais (inclusive incas) que habitavam a região, e cujo principal destaque são as "chulpas" - grandes torres de pedra que funcionavam como túmulos. Apesar de ter muita história para contar, o que mais nos surpreendeu em Sillustani foi a intensa beleza do local, que está justamente ao lado da Laguna de Umayo. Particularmente, nós achamos a paisagem de Sillustani mais bonita que a do Lago Titicaca!
Para chegar até lá: no terminal de Puno, pegue uma van (3,50 soles) em direção à cidade de Juliaca, e peça para descer em frente ao desvio que vai para Sillustani. Nesse desvio, você pode tentar uma carona ou entrar em um dos táxis compartilhados que levam você até a entrada do parque (pagamos 3 soles por pessoa).
Preço do ingresso: 10 soles. Há desconto para idosos, estudantes, crianças, etc.
Tempo necessário em Sillustani: o parque não é muito grande, e em 1h30 você terá tempo suficiente para percorrer toda a trilha pavimentada e tirar fotos com calma.
As chulpas, que séculos atrás eram usadas como túmulos |
Chulpa em ruínas |
Depois de visitarmos Sillustani, voltamos para Puno e de lá já pegamos um ônibus rumo a Copacabana, nossa primeira parada na Bolívia.
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Para saber mais sobre a nossa viagem pelo noroeste da América do Sul, confira os outros posts:
Roteiros - Colômbia, Equador, Galápagos, Peru e Bolívia (o roteiro mudou um pouco!)
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